O comando nacional do PT reagiu mal à proposta da candidata a prefeita do Recife Marilia Arraes de, sendo eleita, exigir do Governo do Estado a retirada do Complexo Prisional do Curado, o antigo presídio Aníbal Bruno, da região. A direção do partido interpretou que a promessa de campanha se distancia dos pensamentos e posicionamentos ideológicos petista e do campo da esquerda e se “abraça” com o espectro bolsonarista, alvo prioritário na disputa política deste ano. A proposta reforçou ainda mais o incômodo da Nacional com os rumos da campanha de Marilia, após a postulante esconder os símbolos do partido – a estrela e a cor vermelha – nas peças eleitorais.
Durante entrevista a uma rádio local, na segunda-feira (5), Marília argumentou que a região onde está situado o Complexo Prisional, que compreende os bairros do Sancho, Totó, Tejipió e Curado, reside mais de 200 mil habitantes e essas pessoas são afetadas diariamente pela presença do presídio. “Um equipamento desses não tem mais sentido estar no meio de um lugar tão habitado. Ele precisa ser realocado, para dar segurança às comunidades e às famílias, mas também para dar mais dignidade aos presos e suas famílias”, afirmou a candidata petista, na ocasião.
A proposta de Marília foi interpretada por dirigentes graúdos do PT como mais uma sinalização para aproximar do eleitorado de centro-direita e simpatizantes de pautas militaristas no Recife, que ainda estão indecisos em relação ao “cardápio” de prefeituráveis e que não definiu o voto. Integrantes da direção nacional pontuam ainda que esse “flerte” da petista com esse eleitorado pode não surtir efeito esperado pelo comando da campanha de Marília, visto que sua postulação ainda não é identificada como do PT. A partir do momento em que os eleitores de direita e bolsonaristas entenderem que a candidatura de Marília é de esquerda, rejeitariam apoio à ela.
Outro fator também colocado por integrantes da direção nacional é que a condição de Marília ser candidata a prefeita foi justamente reforçar as bandeiras historicamente defendidas pelo PT, ir pra linha de frente na defesa do partido e dos ex-presidente Lula e Dilma e resgatar o legado da sigla na capital pernambucana. Contudo, até o momento, nada do que teria sido acordado foi posto em prática pela campanha da postulante, o que estaria aprofundado o desgaste junto à instância nacional.
Nas redes sociais, militantes e simpatizantes do PT e da coligação majoritária, que tem o PSOL como aliado, condenaram a promessa de Marília, alegando que a proposta se afasta de pautas históricas dos partidos. “Questionar o nosso sistema prisional? Jamais. Vamos tentar marginalizar ainda mais a população carcerária e colocar o problema onde a vista não alcança. O PT está completamente perdido e desconectado das bases e dos movimentos sociais. Se a proposta da ‘esquerda’ é essa, avalie a outra”, escreveu um apoiador no Twitter.
“Alguém precisa avisar a Marília que ela é candidata do campo de esquerda. Impossível não lembrar que lá atrás, em 2011, foi dela o projeto de lei que tentou proibir o consumo de bebida alcoólica nas vias públicas do Recife com o pretexto de combater a violência. A proposta não vingou porque recebeu duras críticas de entidades da sociedade civil, que classificaram a ideia como autoritária, antidemocrática e excludente. Afinal, o projeto atingiria em cheio a liberdade e os direitos fundamentais de moradores de bairros de baixa renda, a exemplo das 200 mil pessoas que vivem no Totó, Curado, Sancho, Jardim Planalto e várias outras localidades”, comentou outro simpatizante, no Facebook.