
João Campos segue o script de Eduardo e amplia influência no estado
João Campos começou sua trajetória na Prefeitura do Recife sob o peso da desconfiança. Eleito num segundo turno tenso contra a prima Marília Arraes, obteve votos mais pela rejeição ao PT do que por entusiasmo com seu nome. Ao formar sua primeira equipe, apostou em nomes técnicos e desconhecidos, muitos sem experiência política. Com o tempo, percebeu a necessidade de abrir espaço para forças partidárias. O bom desempenho administrativo consolidou sua imagem e abriu as portas para o apoio político, resultando numa reeleição histórica: 78% dos votos válidos, a maior da capital pernambucana.
No segundo mandato, João Campos aprimorou sua articulação com os partidos. MDB e Republicanos se tornaram pilares do seu governo. O primeiro com Raul Henry e Paulo Roberto, e o segundo com o ministro Silvio Costa Filho, uma das principais lideranças da base aliada. A recente nomeação de Miguel Ricardo como secretário de Saneamento é um exemplo claro disso: indicação direta do Republicanos, com o aval do ministro Silvio Costa Filho e do deputado Mário Ricardo, a escolha reflete a força da legenda na engrenagem da gestão.
Mais do que distribuir cargos, João Campos tem se destacado por criar vínculos sólidos com as lideranças políticas, em vez de se apoiar apenas nas siglas. Um movimento estratégico que tem lhe garantido estabilidade e apoio, sem perder o controle da gestão. O MDB e o Republicanos já estão no seu palanque de forma firme, e o diálogo com o União Brasil de Miguel Coelho e Antonio Rueda, assim como com o PP de Eduardo da Fonte, tem se intensificado.
A aproximação com o presidente da Alepe, Álvaro Porto, também foi um acerto. Álvaro tornou-se um aliado leal e tem colaborado com habilidade para expandir a influência de João no interior. Sua intermediação tem sido decisiva em diversas articulações, consolidando a base do prefeito em todo o estado.
João Campos aprendeu com maestria a lição do ex-governador Eduardo Campos: somar sempre, dividir jamais. Mesmo à frente de uma estrutura menor, tem conseguido se projetar como liderança estadual. Sua capacidade de articulação política, aliada a uma gestão bem avaliada, o transforma em um dos principais nomes da política pernambucana contemporânea.
Exemplo de Raul Henry – Ao ser derrotado para a Câmara dos Deputados, Raul Henry declarou voto à Raquel Lyra no segundo turno em 2022. Presidente estadual do MDB, Henry tinha currículo para ser secretário de uma pasta relevante da governadora e criou forte expectativa pra isso, mas teve que indicar uma mulher para o secretariado, que foi Amanda Aires, frustrando seus planos. Indicou, mas não precisou mais ter compromisso com a governadora, e buscou em João Campos o alicerce para continuar existindo na política. O prefeito, por sua vez, lhe garantiu a estabilidade que ele precisava. Tornou-se um soldado do projeto de João Campos, e antes adversário de Paulo Roberto no MDB, virou aliado com a benção do prefeito. Com isso, João garantiu consigo uma legenda de mais de 40 deputados, que tem tamanho parecido com o PSD da governadora Raquel Lyra.
Álvaro Porto – O outro exemplo, ainda mais emblemático foi o do presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, Álvaro Porto. Aliado de primeira hora de Raquel Lyra, sendo o único deputado de mandato a apoiá-la, ele conseguiu chegar à presidência sem precisar do apoio da governadora, o PSB, por sua vez, declarou voto de forma unânime a ele, que em outrora foi um duro crítico do partido, resultado: conquistou Álvaro para fazer o que precisar ser feito para atrapalhar Raquel e viabilizar João Campos.
Caso parecido – Eduardo Campos, recém-eleito governador em 2006, queria um nome de sua confiança para presidir a Alepe, e não era, inicialmente Guilherme Uchoa, ao se deparar com a realidade da viabilidade dele, que também foi seu aliado na campanha de 2006, rendeu-se aos fatos e somou esforços para que Guilherme fosse eleito presidente. Dividindo o bônus da sua vitória, como resultado, teve um aliado fiel dentro da Assembleia e não precisava se preocupar com os deputados, que tinham em Guilherme o interlocutor de suas demandas com o Palácio. Esse foi, talvez, o grande diferencial para o êxito de Eduardo Campos. Se tivesse contenda com Guilherme, certamente não teria chegado onde chegou.
Inocente quer saber – João Campos está fazendo tudo certo para lograr êxito no seu projeto político?