O Brasil vem, nos tempos recentes, experimentando um nível de radicalismo que tem inviabilizado o tratamento minimamente civilizado entre as pessoas. Recife foi palco disso este final de semana durante o episódio de transferência de uma criança capixaba de 10 anos, estuprada por um tio e em adiantado estágio de gestação – cinco meses já chegando aos seis – para fazer um aborto no CISAM, maternidade que pertence à Universidade Estadual – UPE.
Não é de hoje que tenho uma posição clara sobre o assunto. Sempre defendi a vida e como tal sou contra o aborto. Não fico, porém, porque não é do meu feitio – e todos que me conhecem sabem disso – tentar convencer no grito. E o problema que constatamos é que essa pauta, sempre em debates ou em situações polêmicas como agora, gera discussões acaloradas e que geralmente chegam a níveis de agressões nada civilizadas. O que em nada ajuda na busca de soluções viáveis.
E foi pensando em contribuir com a questão por demais preocupante que me dirigi ao CISAM este domingo. Meu objetivo, único e real, era de conversar com os dois grupos com posições divergentes, extremas. Contribuindo, assim, com o encaminhamento de uma negociação, para que, como propuseram os médicos do Espírito Santo que se recusaram a fazer o aborto por conta do adiantado estágio da gestação, se pudesse convencer a família a adiar o procedimento a tempo do bebê poder sobreviver e ser encaminhado – se fosse o caso – para adoção.
Conversei com as pessoas e resolvi fazer um vídeo para explicar pelas redes sociais esse propósito. Impossível. Agressões verbais e gritaria me impediram de continuar expondo minha posição, meus argumentos. Ficando impossível também manter uma conversa e muito menos entendimentos.
Saí de lá convencida, infelizmente, de que o radicalismo exercido por muitos não se coaduna com os princípios democráticos, e que os ânimos não arrefecem sequer no momento em que está em jogo um tema como o aborto e, consequentemente, a morte de uma criança que já estava formada, pesando mais de 500 gramas. Podemos ter nossas posições a favor ou contra determinadas questões. Aceitar ou não a opinião ou crenças do outro, mas saber ouvir é o primeiro passo para exercitarmos melhor o nosso direito de escolha.
Se tentar fazer o outro ouvir um apelo de adiamento de um procedimento em busca de salvar duas vidas e não somente a da mãe, já tão sofrida e que foi violentada dentro de sua própria família por quatro anos, não sensibiliza, não serve como o começo de um entendimento. Então, como acreditar nos propósitos expostos em salvar vidas?
O radicalismo não permitiu que o diálogo sequer começasse. Tempos difíceis esses nossos.
*Por Terezinha Nunes, jornalista e ex-deputada estadual.
Mauro Guerra diz
Mentira. Vc foi lá chamar uma criança de 10 anos que foi estuprada de assassina. No minimo estava ao lado dos que chamaram.
Vc foi fazer arruaça ma frente de um hospital, onde estavam internados crianças e mulheres gravidas.