A busca da independência financeira – sobretudo no colapso econômico instalado antes mesmo da atual crise sanitária – lançou cada vez mais pessoas ao mundo dos negócios, nem sempre com experiência na atividade ou orientadas por um projeto de viabilidade, são guiadas pelo instinto diante da escassez do emprego formal com o objetivo de garantir a renda. Sem parar para refletir sobre propósito, a crença do empreendedor que o tino para negócio se equipara a um talento para converter a venda e que esse mesmo “dom” é suficiente para orientar a gestão da empresa, sobretudo, quando há um certo retorno financeiro, é um dos principais motivos que levam 1 em cada 4 empresas ao fechamento, segundo dados do Sebrae.
Se antes deste caos econômico decorrente da pandemia o mundo era incerto e complexo, hoje, não há a menor dúvida, que esse cenário de intensa alteração nas relações sociais com impacto nos negócios é o “novo normal”: seja na perspectiva organizacional, das relações de trabalho, com forte incidência do modelo remoto “home office”; seja na ótica na modelagem dos próprios produtos e serviços. A gestão empresarial deverá ser baseada em propósito claro e valores que se traduzam em ações cotidianas integradas à cadeia de valor, que influenciem desde a tomada de decisão atendendo aos interesses de todas as partes interessadas até o momento da entrega do produto. Dado neste sentido é que as empresas de certificado B – que aliam lucro ao propósito de impactar a uma só vez, sociedade, meio ambiente e economia – tiveram 63% mais chances de sobreviver à última crise financeira.
Deve ser focada em resultados, mas, antes de tudo, nas pessoas. São as pessoas o seu maior ativo. As pessoas – colaboradores, que mantêm vivos os negócios, e as pessoas -clientes cada dia mais críticas e exigentes quanto à sua escolha, porque ao perceberem que o ato de consumir é um ato político e de transformação social, têm forçado a empresa não demonstrar só o resultado, mas de que forma foi alcançado, com especial relevo às posturas éticas empresariais e de conformidade com as leis, postas, não raro, em xeque neste momento de pandemia. Para sobreviver ao novo normal, quem tem tino para negócio não é só quem possui espírito empreendedor, mas quem tem capacidade de forjar – por si ou com apoio profissional – uma cultura organizacional atenta a essas novas necessidades. Empresas com propósito retêm talentos, tornam-se resilientes e altamente produtivas. Instinto, portanto, não será mais suficiente.
Clarissa Lima é consultora em compliance, sócia da Ethico. Auditora-Líder em Sistema de Gestão Integrado Compliance e Antissuborno (ISO 19600 e 37001) pela ATSG – RAC e WCA (World Compliance Association), com formação em Compliance e Gestão de Compliance pelo INSPER/SP.
@ethicocompliance
Deixe um comentário