
A disputa pela presidência da República trouxe uma diferença muito pequena entre os dois primeiros colocados, Lula ficou com 48,4% contra 43,2% de Jair Bolsonaro, configurando-se na menor diferença da história entre os dois primeiros colocados. A disputa traz nuances que devem ser levadas em consideração e permite comparações com pleitos anteriores.
O fator voto da terceira via exige um raciocínio lógico de como se comportará o eleitor que votou em Simone Tebet, Ciro Gomes, Soraya Thronicke, Luiz Felipe D’Avila, e os menores, que somados representaram 8,4% dos votos válidos. O perfil do eleitor de Tebet aparenta ser de classe média, mais focado em questões econômicas e que pode ter votado em Jair Bolsonaro em 2018, mesma situação do eleitor de Luiz Felipe D’Avila e de Soraya Thronicke, o que pode viabilizar um caminho de volta para Bolsonaro numa maior proporção do que para Lula.
No caso do eleitor de Ciro, se a postura dele fosse a mesma de 2018, era possível considerar que migraria automaticamente pra Lula, porém como ele fez duras críticas ao PT, essa conclusão se tornou difícil de se consolidar, e fica uma interrogação de como se dará o comportamento deste eleitorado no segundo turno.
O fator abstenção também precisa ser levado em consideração. No primeiro turno havia a presença dos candidatos proporcionais, que por razões óbvias, faziam o voto periférico chegar às urnas e em sua maioria esse eleitorado cravou o voto no ex-presidente Lula. Num segundo turno resta saber, sobretudo no Nordeste com a maioria das disputas definidas, se essa situação vai se repetir ou não, o mais provável é que não.
O fator Minas Gerais, que historicamente garante a eleição do presidente da República foi algo totalmente contraditório, pois deu aos simpatizantes de Bolsonaro o deputado federal mais votado, o estadual mais votado, o senador eleito e um governador reeleito com uma plataforma parecida com a do atual presidente. Apesar disso Lula foi vitorioso lá com uma diferença de cinco pontos, tamanho idêntico ao resultado nacional. Agora com o apoio de Zema, Bolsonaro espera reverter o quadro, uma vez que as pesquisas eleitorais apontavam 15 pontos de vantagem para Lula e ela foi de apenas cinco. Se elas estavam certas, o viés de crescimento em Minas é de Bolsonaro.
São Paulo foi outra situação que trouxe um cenário distinto do que as pesquisas apontavam. Elas chegaram a apontar Fernando Haddad na frente e Lula vencendo com oito pontos de vantagem. A abertura das urnas mostrou exatamente o inverso. Tarcísio Gomes de Freitas foi o primeiro colocado. O eleitorado de Rodrigo Garcia dirá qual será o tamanho da vantagem de Tarcísio, que hoje é favorito no segundo turno. Com uma polarização nacional sofrendo forte impacto da disputa estadual no maior colégio eleitoral do país, a diferença pró-Bolsonaro poderá aumentar na vinculação de votos Tarcísio/Bolsonaro, Lula/Haddad.
A eleição de 2014 colocou Dilma e Aécio muito próximos, uma diferença de apenas sete pontos, porém 25% dos votos válidos não foram para os dois primeiros colocados, Aécio chegou a igualar o jogo com Dilma, mas acabou sendo derrotado por uma diferença ínfima no segundo turno, onde uma derrota em seu estado, Minas Gerais, foi crucial para tirar-lhe a presidência da República. Naquela ocasião quem tinha a caneta era Dilma, a força da máquina, atrelada ao maior número de governadores, senadores e deputados federais eleitos foi determinante para a vitória de Dilma. Hoje quem tem tudo isso a seu favor é o atual presidente Jair Bolsonaro.
Considerando novamente as pesquisas do primeiro turno, sem entrar no mérito dos erros que os institutos cometeram, o fato é que Lula saiu das urnas em viés de queda/estagnação, enquanto Bolsonaro saiu das urnas em viés de alta. Como a opinião pública não é um movimento estático, e segue em transformação, é plenamente possível considerar uma virada de Jair Bolsonaro contra Lula, pois além de todos os fatores, ainda há um longo segundo turno pela frente, com tempo de guia eleitoral igual para os dois lados e o sentimento do erro das pesquisas eleitorais do primeiro turno, que se de alguma forma influenciou o resultado em favor de Lula, neste segundo turno seu peso será minorado de forma significativa para influenciar o eleitorado. Portanto, o viés da eleição hoje é de Jair Bolsonaro, mas não pode menosprezar a força de Lula que precisa de muito pouco para liquidar a fatura no próximo dia 30.



