Blog Edmar Lyra

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Postado por Edmar Lyra às 21:02 pm do dia 30 de maio de 2023

O exemplo Teresa

Foto: Alexandre Gondim

Há poucos dias, o mestre Gustavo Krause, publicou um artigo no sistema JC, cujo tema foi Teresa. Sim, Teresa Duere, minha irmã. A grafia que implica na falta de um(i), erro do escrivão do Cartório de Registro, pouco importa.

Talvez, nossas diferenças tenham a ver apenas com o temperamento. O dela é forte, o meu ameno. Também há de se considerar que tivemos quadras de vida parecidas, ao mesmo tempo bem diferentes.

Onze anos nos separam na idade, e nos intermitentes tempos de convívio. Teresa foi engajada desde cedo na política estudantil, juventude católica, contestadora do regime de força presente nos chamados anos de chumbo. Lembro de meu pai, o velho Pedro, de viés “conservador”, tendo que conviver em casa, e fora dela, com uma rebelde revolucionária.

Passeatas reprimidas com intimidação, e atos de força, levaram aquela “menina” a alguns sopapos, empurrões e recolhimentos nas camionetes pintadas de verde oliva.

Passado um tempo adiante, Teresa começou a se envolver com os trabalhos sociais de Dom Hélder, tido à época pela ditadura como o “perigoso Arcebispo vermelho”, portador das digitais de subversão da ordem instalada.

O sacerdote católico foi duramente perseguido, e seus fiéis seguidores, sequestrados, torturados, e massacrados pelos araques da ditadura. Recordo-me bem das rurais de placas frias em frente à minha casa, telefones gravados, e até invasão de policiais à paisana no nosso apartamento, ações ilegais e violentas onde quebravam estantes com “livros proibidos” e proclamavam rudemente ameaças a minha mãe, Carmelitis, dizendo que sua filha amanheceria com a “boca cheia de formigas”.

Fui testemunha aos 11 anos dessas cenas de horror e escuridão. Tais ações foram apertando e, na iminência de uma tragédia, a única saída foi a fuga. Primeiro para o Rio de Janeiro, abrigada no momento inicial por outro pernambucano comprometido com a justiça social, o diplomata João Cabral de Melo Neto e sua esposa Estela. Dom Hélder movimentava seu tabuleiro de relações pessoais para salvar seus auxiliares do calabouço e torturas praticadas, sem cerimônias, nos porões do DOPS.

Mesmo escondida no Rio de Janeiro, o radar da ditadura farejou sua localização. Não havia alternativa, se não o exílio, e com documentos falsos, foi para o Chile trabalhar em uma fábrica de parafusos, vivendo em uma comunidade solidária nos tempos do Presidente Salvador Allende. Mas, o rastro do golpe estava em quase toda a América Latina, e o General Pinochet fez sua parte no Chile.

Então, tudo começou outra vez. Foi para o México, e retornou como clandestina ao Brasil onde foi presa, torturada, e quase morta. No período de recuperação dessa agonia encontrou pelas bençãos de Deus, Elvira Nogueira, esposa do Embaixador Paulo Nogueira Batista, então Presidente da Nuclebrás, e admiradora incondicional do chamado “bispo vermelho “. A combinação da encruzilhada entre os Batistas e Gustavo Krause (então prefeito do recife) ,de quem meu irmão, Pedro, foi devotado Secretário de Obras, resultou em seu retorno ao lar em Recife, dez anos depois de sua fuga em companhia de Zezita Cavalcanti, secretária pessoal e confidente de Dom Hélder, em um fusca comandado pelo chefe de minha família (aquele ultra conservador Pedrão, que jogou ao chão suas crenças ideológicas para salvar a filha).

Não tardou para ingressar na política, onde teve três briosos e dedicados mandatos na Assembleia Legislativa, mantendo a coragem e a coerência que sempre lhe acompanharam.

De resto, Krause com o seu talento já detalhou com palavras bem formadas e mágicas da qual é imbatível detentor.

Esse registro serve para marcar a saúde cívica de Teresa ao sair do Conselho do Tribunal de Contas de Pernambuco, depois de passados vinte anos de exercício pleno dessas funções. Primeira mulher Conselheira na Corte, que exerceu todas as funções possíveis na Casa, incluindo a de Presidente.

Ela nunca baixou a guarda em suas convicções de justiça e correção. Da sua caneta, ora saiam decisões rigorosas, mas mesmo essas contavam com o respeito dos gestores; ora saiam decisões divergentes da área técnica, mas sempre num processo de construção e sem perder de vista o olhar da auditoria.

Sai como se estivesse no começo de sua vida, acreditando que existe espaço para o equilíbrio social, o resgate dos vulneráveis, chance para os excluídos.

Teresa, passado tantos anos, é titular do privilégio de poder se reconhecer nos dias de hoje, como aquela jovem idealista que rompeu o status conformado e conveniente do padrão das meninas de classe média de seu tempo de juventude.

Espero que possa assumir outros desafios nessa nova quadra de vida. Seu exemplo encoraja, estimula, forma. Precisamos ter uma visão além da paisagem viciada que encontramos na rotina do dia a dia, acreditando que o mundo pode ser melhor, sem desistir, e seguir em frente.

Fernando Dueire, senador (MDB)

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Edmar Lyra

Jornalista político, foi colunista do Diário de Pernambuco e da Folha de Pernambuco, palestrante, comentarista de mais de cinquenta emissoras de rádio do Estado de Pernambuco e CEO do instituto DataTrends Pesquisas. DRT 4571-PE.

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