Em tempos de vigilância sobre o uso dos recursos públicos, é sempre bem-vinda a fiscalização das instituições. Mas também é necessário estar atento a movimentações suspeitas disfarçadas de zelo técnico. A recente suspensão de uma licitação de R$ 120 milhões da Secretaria de Comunicação de Pernambuco, determinada por medida cautelar do conselheiro Eduardo Porto, escancarou um detalhe que tem causado estranheza nos bastidores: quem é, afinal, o advogado Pedro Queiroz Neves?
Desconhecido até então mesmo entre operadores do direito em Pernambuco, Pedro Neves aparece como o autor do pedido que resultou na suspensão dos pagamentos da concorrência pública 1360.2024.0001, destinada à contratação de quatro agências de publicidade. O argumento jurídico — ausência de notas individualizadas pela subcomissão técnica — é tecnicamente fundamentado, mas o contexto da ação revela mais dúvidas do que certezas.
Um advogado com capital social de R$ 6 mil, sem histórico de grandes causas, sem atuação institucional visível, sem vínculo com nenhuma das agências prejudicadas — consegue, sozinho, paralisar um contrato de tamanha magnitude? É esse o novo padrão de controle da administração pública? Basta um protocolo isolado, sem qualquer sustentação institucional ou representatividade, para congelar ações do Estado?
A pergunta que ecoa é inevitável: a serviço de quem age Pedro Queiroz Neves? Qual interesse, que não o puramente técnico, estaria sendo satisfeito com a suspensão de uma licitação que movimenta cifras milionárias e define os rumos da comunicação oficial do governo?
O conselheiro Eduardo Porto — que já teve seu nome envolvido em polêmicas familiares e políticas — acolheu monocraticamente o pedido e ainda determinou auditoria especial. O problema não é a investigação em si, mas a fragilidade do gatilho que a disparou: uma petição avulsa, sem representatividade, de um advogado que, até dias atrás, era um completo desconhecido no cenário estadual.
Há algo de incoerente — e perigoso — no fato de que qualquer ato administrativo possa ser travado por um pedido solto, vindo de um escritório de fundo de quintal, sem transparência sobre as intenções nem sobre os interesses que o motivam.
Quem financia, apoia ou se beneficia da iniciativa de Pedro Neves? Por que ele, e por que agora? Trata-se de um cruzado solitário em nome da moralidade pública ou de um instrumento conveniente para sabotagem política, movido por interesses escusos?
As respostas ainda não estão claras. Mas uma coisa é certa: em tempos de guerra política e eleitoral, a ingenuidade custa caro. E, no jogo bruto do poder, até um nome desconhecido pode ser peão valioso — desde que movido por mãos ocultas.
Deixe um comentário