
A disputa presidencial trouxe a menor diferença entre os dois primeiros colocados da história, Lula ficou com 48,4% dos votos válidos contra 43,2% de Jair Bolsonaro, apenas 5,2 pontos separaram as duas maiores lideranças do país. Mais de 98 milhões de votos foram dados aos dois primeiros colocados no primeiro turno. Pouco mais de 118 milhões de eleitores foram às urnas no último domingo, portanto dos presentes na eleição 20 milhões de eleitores não votaram nos dois antagonistas do segundo turno.
Na história das eleições nunca um segundo colocado virou a disputa presidencial no segundo turno, o que traz algum tipo de desafio para o atual presidente Jair Bolsonaro que ficou seis milhões de votos atrás do seu oponente. Porém, a pesquisa Datafolha mostrou ontem que a virada não é algo impossível de considerar, faço um adendo aqui aos institutos de pesquisa que erraram feio no primeiro turno, sobretudo subestimando o tamanho eleitoral do presidente Jair Bolsonaro e superestimando a votação de Lula, ainda que em sua maioria dentro da margem de erro.
De acordo com o Datafolha, Lula tinha 54% das intenções de voto contra 38% de Jair Bolsonaro na simulação de segundo turno feita no sábado, véspera da eleição, em uma semana houve uma modificação de cenário em que o ex-presidente aparece com 49% contra 44% do atual presidente, Lula perdeu, portanto, cinco pontos, e Bolsonaro cresceu seis pontos. Uma vantagem de dezesseis pontos tornou-se cinco. Em votos válidos, Lula teria 53% contra 47% de Bolsonaro.
Na eleição de 2014, Dilma Rousseff terminou a frente de Aécio com uma diferença de pouco mais de sete pontos no primeiro turno, na simulação de segundo turno feita logo na primeira semana da segunda etapa, o candidato do PSDB apareceu numericamente à frente ainda que dentro da margem de erro, mas foi o ativo político obtido por Dilma, como por exemplo o maior número de senadores e deputados federais eleitos naquela ocasião que foi determinante para que ela conquistasse a reeleição por uma diferença pequena de votos.
A disputa em Minas Gerais também foi determinante, uma vez que Aécio Neves mesmo sendo um político com uma trajetória vitoriosa no estado, foi derrotado lá, Dilma tinha a seu favor o governador Fernando Pimentel eleito em primeiro turno. A relação com Fernando fez com que os mineiros dessem a Dilma a condição de mais votada, mesmo enfrentando um adversário com raizes no estado. Agora é Romeu Zema, eleito em primeiro turno, quem apoia Bolsonaro na segunda etapa.
Na disputa deste ano, os fatores que beneficiaram Dilma Rousseff estão a favor de Bolsonaro, que elegeu um congresso alinhado com ele, que elegeu o governador de Minas Gerais que agora o apoia no segundo turno e tem o fator São Paulo que poderá garantir a Jair Bolsonaro uma vantagem maior do que a obtida no primeiro turno, que foi de quase oito pontos. A disputa entre Tarcísio Gomes de Freitas e Fernando Haddad, cujo favorito é o ex-ministro de Bolsonaro poderá fazer o voto casar e o atual presidente ampliar seus votos no maior colégio eleitoral do país.
O fator abstenção é algo que poderá diminuir a vantagem de Lula sobre Bolsonaro, em especial no Nordeste, uma vez que muitos eleitores são mobilizados pelas disputas proporcionais. Em termos percentuais a vantagem de Lula pode até chegar a 70% contra 30% de Bolsonaro, porém em votos que forem para às urnas serem numericamente menores do que no primeiro turno, o que também não se descarta uma própria diminuição da vantagem de Lula na região uma vez que Bolsonaro teve um desempenho melhor nas regiões metropolitanas de capitais nordestinas.
É bem verdade que Lula tem um desafio menor, pois basta conquistar uma parcela pequena dos votos de Simone Tebet e Ciro Gomes que declararam voto a ele no segundo turno que poderá sagrar-se vitorioso, mas o viés de alta de Bolsonaro, que ainda tem vinte dias de campanha eleitoral pela frente poderá trazer uma surpresa amarga para o Partido dos Trabalhadores, que seria uma inédita virada em favor de Bolsonaro, que em 2018 conseguiu superar o que parecia impossível, ganhar uma eleição com apenas dez segundos de televisão e sem palanques estaduais competitivos.


