Por Louise Caroline
No ano 2000, fui aprovada em primeiro lugar no vestibular da ASCES. Demonstrei, assim, minha “capacidade individual”, mas, sem FIES nem PROUNI, não fiz sequer a matrícula. Em Caruaru também não existia Universidade Pública, tive que me mudar pra Recife pra fazer a graduação. Foi ali que decidi ingressar no Movimento Estudantil e lutar por inclusão social e educacional. Já como vice-presidenta da UNE, participei da inauguração da UFPE de Caruaru e da criação do PROUNI. Vi de perto que os sonhos da nossa geração aconteceram por uma confluência entre a luta dos movimentos, a persistência do povo e posição política do governo disposto a ampliar o papel do Estado na garantia dos direitos sociais. Mais tarde, meu irmão concluiu a graduação com FIES e minha mãe voltou a estudar graças ao mesmo financiamento público. Estamos todos com Dilma, não por gratidão, mas por esperança de que muitas outras pessoas possam ter esses direitos e que muitos outros direitos possam ser conquistados.
“Como assim você tem PROUNI e não vota em Dilma?”. De tanto repetir essa pergunta e receber uma reação às vezes atônita, às vezes indignada, busquei entender melhor o fenômeno. Considero estarmos diante de um colossal abismo de comunicação política e de política. De ambos os lados.
A questão não se limita ao PROUNI, mas envolve também FIES, Ciência Sem Fronteiras, Concursos Públicos, Universidades e Institutos Técnicos Federais. Em comum: a) são políticas públicas criadas ou largamente ampliadas pelo Governo Federal nas gestões de Lula e Dilma; e, b) têm como público alvo uma parcela jovem e antenada da população.
O que explica que os beneficiários desses programas federais simplesmente não vejam qualquer relação entre o governo e sua conquista? E que, em grande parte, não votem em Dilma?
“Ingratidão é o pior dos pecados”, comentam governistas revoltados com a falta de reconhecimento. Não parece uma boa forma de dialogar com jovens conscientes de suas próprias capacidades, além de pouco coerente com o incentivo ao protagonismo popular que o PT sempre atribuiu às transformações sociais.
Não, esses jovens não devem votar no PT porque o governo lhes presenteou com uma bolsa de estudos, ou com uma vaga na universidade pública, ou com a abertura de um concurso. Essas ações não são dádivas governamentais. Não se dão por decisões simplistas, nem por competência individual do governo ou dos estudantes. São políticas públicas cultivadas com muita luta política nas ruas e nas urnas.
É aí que reside o erro dos meus companheiros de partido: não contextualizar historicamente essas conquistas, como parte de movimentos juvenis e populares que as impulsionaram; como acúmulo das dezenas de Conferências e Conselhos de participação social feitos pelo próprio governo. Erramos, principalmente, ao não convocar a turma incluída por esses programas a se mobilizar para transformar a educação, dar vida à democracia, fortalecer as mudanças conosco.
Acontece que, se o lado que implementa os programas erra na forma de comunicar seu significado, os milhares de jovens incluídos erram por desconsiderar o papel do governo na sua conquista. De ambos os lados, o erro é minimizar a política.
Quando falamos e repetimos que o governo anterior não criou nenhuma Universidade Pública enquanto Lula e Dilma duplicaram o número de vagas, não é por uma picuinha comparativa, nem é para olhar pro passado. É uma tentativa de explicar que embora se tente igualar os partidos políticos, há entre eles imensas diferenças.
Não é que uns sejam bons e outros maus, como invoca esse maniqueísmo primitivo que aparece hoje no cenário eleitoral. São projetos, visões de mundo, ideias diferentes. Quem nega isso, quer confundir para dominar.
Esses dias vi um rapaz de São Paulo dizendo em entrevista que pra ele importa é a qualidade de vida e não a ideologia. Pois, tcharan!, a qualidade de vida está diretamente ligada à ideologia. O que é qualidade de vida pra uns não é para outros!
Um governo é permanentemente disputado por diversos interesses que existem na sociedade. Por exemplo, ampliar o número de vagas nas Universidades Públicas agrada os que querem estudar, mas desagrada os que defendem a “reserva de mercado” (menos profissionais, maiores salários). Ou, criar uma seleção como o ENEM para o preenchimento de bolsas nas Universidades Privadas, desagrada as instituições que antes as distribuíam segundo seu próprio interesse (por isso, o dono de uma das maiores Faculdades do Brasil entrou no STF contra o PROUNI, à época).
Os governos do PT investiram em concursos; vagas públicas de graduação, pós-graduação e cursos técnicos; bolsas nas instituições privadas; além de outros programas já tão difundidos; por uma posição ideológica em favor do fortalecimento do Estado e da inclusão social. Não é por bondade, nem por dádiva, nem por favor.
E não foi fácil implementá-los. Houve oposição forte! Não existiam antes de Lula e Dilma e podem voltar a não existir depois. O mundo está cheio de casos de países que avançaram em direitos sociais e retroagiram em seguida.
É óbvio e ululante que tudo isso não teria acontecido se o governo fosse de uma posição ideológica distinta.Aconteceriam outras coisas, boas ou ruins. Mas seguramente não seriam no sentido de ampliar o setor público, porque nossos principais adversários eleitorais divergem assumidamente dessa ampliação investimentos públicos!
Tanto Marina quanto Aécio já deixaram claro que pretendem diminuir o Estado. Ora, esse pensamento, conhecido por neoliberalismo, não permite ampliar vagas, nem abrir concursos, nem ampliar o número de bolsas ou financiamento. Existe para ser contra isso, com argumentações teóricas inteligentes, embora catastróficas para a maioria da população.
É aí que reside o erro dos meus jovens amigos: não buscar compreender o processo político profundamente, investigando as ideologias por trás de cada candidatura e os efeitos delas na sua própria vida.
Tenho certeza de que quem é prounista quer que outros jovens possam ter esse programa. Que quem faz um concurso hoje, quer outra chance no futuro. Que quem recebe financiamento de um banco público para pagar sua mensalidade quer que outros tenham esse direito também. Votar em Dilma não é a retribuição de um favor. É a aposta em um país que amplia direitos sociais através de investimentos públicos. É a única opção de avançar mais nessa direção.
Como já disse, os direitos sociais não são dádivas governamentais. Mas dependem de um governo com posição favorável para que deixem de ser reivindicação e passem a ser ação. Defender o maior processo de inclusão educacional da história brasileira depende, inicialmente, das urnas. Depende de reeleger Dilma Rousseff.
Mais além do que se vê: o novo mundo com que sonhamos, precisa de mobilização cidadã, de uma maior politização da sociedade, de uma ampliação da consciência política de cada jovem. Enquanto as pessoas não entenderem melhor como se dá o jogo político e como somos todos protagonistas dele, seguiremos acreditando que basta um esforço individual para que as coisas mudem.
E as mudanças só se dão a muitas mãos. Nas ruas e nas urnas.
É por isso que me dedico com tanto afinco a construir o PT e a reeleger Dilma Presidenta. Porque quero seguir em frente ao lado de um montão de jovens competentes com o direito de desenvolver suas capacidades através do incentivo público e da inclusão educacional, social e política. Não faltaremos ao nosso país! Não vamos desistir de pensar!
Louise Caroline S. Lima e Silva, @loucarolinepe, é Professora, Cientista Política, do Diretório Nacional do PT e Twitteira.
PS: Fiz questão de não citar números no texto, porque acho que eles já têm sido repetidos à exaustão. Mas quem quiser se aprofundar nos dados de ampliação das vagas nas Universidades Públicas, Institutos Técnicos, Concursos Públicos e FIES; ou sobre a criação do PROUNI, PRONATEC e Ciência Sem Fronteiras; recomendo três páginas eletrônicas:www.dilma.com.br, www.mudamais.com, www.brasildamudanca.com.br.



