
O curioso caso do presidente sem povo
As manifestações de 7 de setembro de 2025 no Brasil escancaram uma realidade inquietante: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apesar de seu histórico político e da vitória apertada sobre Jair Bolsonaro em 2022, ainda não conseguiu resgatar uma conexão ampla com a população. Na eleição presidencial de 2022, Lula venceu por uma vantagem ínfima, mas já era evidente que Bolsonaro mobilizava multidões de maneira consistente, enquanto Lula não conseguia traduzir sua base eleitoral em atos de rua. Três anos depois, o quadro permanece praticamente o mesmo, reforçando a percepção de um governo distante das massas.
Em São Paulo, a Avenida Paulista foi palco de um ato que reuniu cerca de 42 mil pessoas, segundo estimativas da USP. Governadores de oposição e figuras ligadas ao bolsonarismo discursaram contra o governo, cobrando pautas como a anistia para os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro. Em Brasília, o presidente participou apenas do desfile cívico-militar, que, embora simbólico, não refletiu a mobilização popular vista em atos de oposição pelo país. A diferença entre a capacidade de mobilização da direita e a distância do governo Lula ficou evidente.
Pesquisas recentes reforçam esse distanciamento. No Distrito Federal, 59,7% dos eleitores desaprovam o governo, enquanto apenas 37,1% o aprovam (CNN Brasil). Nacionalmente, o cenário é semelhante, com índices de desaprovação superiores à aprovação, refletindo uma percepção de que o governo não atendeu às expectativas, especialmente em áreas como economia, segurança pública e políticas sociais.
A ausência de Lula nas manifestações populares reforça sua desconexão com a sociedade. Enquanto isso, setores da oposição, especialmente ligados ao bolsonarismo, demonstram eficácia em engajar multidões, transformando a insatisfação popular em capital político. O contraste com a eleição de 2022, quando Bolsonaro já se mostrava capaz de mobilizar grande público, evidencia que a fragilidade de Lula em gerar entusiasmo popular não é recente, mas persistente mesmo após quase três anos de governo.
O efeito é duplo: Lula enfrenta dificuldades para consolidar sua base política e para implementar medidas estratégicas, e a oposição encontra terreno fértil para se fortalecer e ampliar sua influência. Com as eleições de 2026 se aproximando, o presidente precisa urgentemente restabelecer diálogo direto com a sociedade civil, reconquistar confiança e mostrar capacidade de mobilização popular.
Em resumo, o “presidente sem povo” não é apenas um título provocativo. É a síntese de um governo que venceu por uma margem mínima, mas permanece incapaz de traduzir sua liderança política em presença de massa, deixando claro que, enquanto a oposição mobiliza ruas e corações, Lula ainda depende mais do voto do que do entusiasmo popular para manter-se no poder.
Declarações – O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), participou neste domingo (7) de ato da direita na Avenida Paulista, defendendo uma anistia ampla, geral e irrestrita para os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro, criticando o que chamou de “abuso” no processo e comparando a medida ao perdão concedido a políticos de esquerda em 1979. Tarcísio afirmou que, com o ex-presidente Jair Bolsonaro solto, “novos tempos virão” e cobrou da Câmara que paute a anistia, destacando o apoio de partidos como PL, Republicanos e União Brasil/PP, enquanto o PSD resiste e o MDB se divide. As declarações ocorrem às vésperas do julgamento de Bolsonaro, marcado para esta semana.
Sem conluio – Ministros do governo Lula consideraram estratégica a ausência de integrantes do STF na cerimônia de 7 de Setembro em Brasília, já que evita interpretações de conluio entre Executivo e Supremo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, cujo julgamento pelo Supremo ocorre nesta semana. Apesar de tradicionalmente convidados para o desfile, os ministros optaram por não participar, transmitindo uma mensagem de independência institucional, enquanto auxiliares do Palácio do Planalto destacam que a medida preserva a imagem de imparcialidade da Corte em meio às acusações de bolsonaristas.
Esvaziado – O ato organizado por lideranças de esquerda e centrais sindicais na Praça da República, em São Paulo, reuniu cerca de 8,8 mil pessoas neste domingo (7), segundo estimativa do grupo Monitor do debate político, do Cebrap, em parceria com a ONG More in Common. O levantamento, feito com fotos aéreas analisadas por inteligência artificial, aponta um público no pico entre 7.704 e 9.806 pessoas, com margem de erro de 12%, utilizando o método Point to Point Network (P2PNet) para identificar automaticamente os participantes.
Pé-quente – O presidente do Santa Cruz, Bruno Rodrigues, já marcou seu nome na história do clube. Em pouco tempo, tirou o Santa Cruz da Série D e garantiu a SAF. Se em 2026 conseguir levar o clube à Série B, poderá ser um dos nomes fortes para a Câmara dos Deputados pelo PP.
Inocente quer saber – Como Lula conseguiu vencer Jair Bolsonaro em 2022, se não mobiliza mais ninguém na rua?



