
Um gesto de harmonia entre os poderes legislativo e judiciário
O almoço promovido pelo presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, Álvaro Porto, nesta terça-feira (9), foi muito mais do que um gesto protocolar de cortesia ao presidente do Tribunal de Justiça, Ricardo Paes Barreto, que deixa o comando da Corte em janeiro de 2026. O encontro, realizado no emblemático espaço de convivência dos deputados — o tradicional “Buraco Frio” — consolidou um recado claro ao meio político: a relação entre o Legislativo e o Judiciário vive um dos momentos mais harmoniosos dos últimos anos, ao mesmo tempo em que Álvaro reafirma sua força interna e capacidade de articulação.
Reunindo 37 parlamentares, incluindo dois licenciados, o gesto de Álvaro Porto extrapolou simbolismos e se traduziu em demonstração prática de liderança. Em tempos de divisões partidárias acentuadas, juntar governistas, oposicionistas e independentes em torno de uma pauta institucional não é trivial. O fato de o evento ter atraído nomes de todas as regiões do estado e de bandeiras políticas diversas reforça a leitura de que o presidente da Alepe consolidou uma maioria confortável e, sobretudo, respeitosa ao seu comando.
Em seu discurso, Álvaro Porto fez questão de situar o momento como um ato de reafirmação do pacto republicano entre os poderes. Ao se dirigir a Ricardo Paes Barreto, destacou que a Assembleia seguirá “atenta e pronta” a atender as demandas do Judiciário, sempre sob a luz da Constituição. Mais do que gentileza, a fala traduz a estratégia do presidente da Alepe: manter portas abertas, garantir previsibilidade institucional e reforçar que a relação entre os poderes não se confunde com subserviência. “Nossa independência enquanto Poder será defendida e preservada”, sublinhou Álvaro, deixando claro que harmonia não anula autonomia.
Ricardo Paes Barreto, por sua vez, demonstrou gratidão e ressaltou a parceria construída ao longo de sua gestão. O presidente do TJPE sai do cargo em clima de tranquilidade política, algo raro em transições do Judiciário, e fez questão de reconhecer que o Legislativo foi fundamental para destravar projetos essenciais para o bom funcionamento da Corte. A cooperação entre as presidências de Ricardo e Álvaro, embora discreta, foi marcada por diálogo constante e respeito mútuo.
A presença do presidente eleito do Tribunal de Justiça, Francisco Bandeira de Mello, adicionou outro elemento relevante ao encontro. Ao afirmar que sua futura gestão manterá a porta aberta para o Legislativo, Bandeira de Mello sinaliza continuidade e estabilidade institucional. A fala reforça que o Judiciário pretende seguir na trilha do diálogo e que não haverá sobressaltos quando assumir o comando em fevereiro.
A lista de presenças também diz muito. Além de Rodrigo Farias e Francismar Pontes, que compõem a mesa diretora, o almoço contou com parlamentares de perfil variado: Coronel Feitosa, Antônio Coelho, Waldemar Borges, Dani Portela, Roberta Arraes, Débora Almeida, Joel da Harpa, Gleide Ângelo, Luciano Duque, entre muitos outros. Até os deputados licenciados Kaio Maniçoba e Eriberto Filho fizeram questão de comparecer, reforçando o peso político do gesto.
No fim das contas, o que se viu no “Buraco Frio” foi uma rara convergência política. Álvaro Porto sai do episódio fortalecido, o TJPE encerra uma gestão em clima positivo e a próxima presidência do Tribunal já nasce com pontes firmadas. Em tempos de tensões institucionais pelo país, Pernambuco oferece um exemplo de que é possível manter independência, diálogo e civilidade — tudo isso temperado por um almoço que teve menos pompa, mas muito simbolismo.
Abrindo caminhos – Durante a entrevista coletiva, a governadora Raquel Lyra, quando questionada por este colunista sobre o fato de ser criticada por seus adversários por supostamente não fazer política, foi taxativa ao afirmar que ela tem um jeito diferente de fazer política, e que muitas das críticas que recebe é pelo fato de ser mulher. Apesar dos desafios, espera ser a primeira a abrir caminhos para que outras mulheres possam ocupar postos de destaque na política pernambucana.
Retirada – O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), determinou a retirada do deputado Glauber Braga (Psol-RJ) da Mesa Diretora após o parlamentar ocupar a cadeira da presidência em protesto contra a decisão de levar ao plenário, nesta quarta (10), o pedido de cassação que pesa contra ele; segundo Motta, não será admitido que deputados voltem a ocupar a cadeira da Presidência, e a Polícia Legislativa acabou retirando Glauber à força horas depois do início da manifestação.
Pane – Um ultraleve sofreu pane no motor e precisou realizar um pouso forçado na tarde da última segunda-feira (8) em uma praia de Ipojuca, no Grande Recife; a aeronave era pilotada por Carlos Artur Soares de Avelar (PP), o prefeito de Barreiros conhecido como Carlinhos da Pedreira, que viajava com um passageiro que se comunicava com a torre de controle, e ninguém se feriu. O ultraleve havia decolado do Aeródromo Coroa do Avião com destino ao Aeródromo Herval, também de propriedade do prefeito, que após o incidente fez uma transmissão ao vivo relatando que o motor parou inesperadamente e que conseguiu aplicar o treinamento necessário para garantir um pouso seguro.
Recado – O ministro Silvio Costa Filho durante a visita ao Morro da Conceição deu uma entrevista que soou como um recado, ao afirmar que não utilizaria o mandato de senador da República como trampolim caso fosse eleito. Ele garantiu que ficará no cargo durante todo o mandato e não disputará a prefeitura do Recife ou o governo de Pernambuco.
Inocente quer saber – A quem foi endereçado o recado do ministro Silvio Costa Filho?


