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A Compesa e a privatização do saneamento.

Por Terezinha Nunes

Em 1982, jovens estudantes de artes plásticas da Universidade Federal de Pernambuco, picharam vários prédios do Recife com a palavra “Recifede”, logo transposta para poemas que denunciavam a inexistência de uma rede de esgotos na capital, obrigando sua população a conviver com o mau cheiro que exalava dos bueiros e canais sempre que a maré baixava.

Estamos em 2012 e, como em 1982, o Recifede continua presente na vida dos habitantes da Região Metropolitana que só contam com 28% de sua área saneada.

Não è à-toa que Recife, Olinda, Jaboatão e Paulista têm os índices mais baixos de cobertura de saneamento entre os 81 municípios brasileiros com mais de 300 mil habitantes.

O problema é infinitamente mais antigo do que o ano do início do protesto estudantil. Em 1859, em Londres, Charles Darwin afirmou em seu diário de volta de uma viagem às Ilhas de Galápagos, no Equador, que Recife, cidade por onde passou, tinha “ruas estreitas, mal calçadas e imundas”. Vergonha internacional.

Neste sentido, apesar de polêmico, é salutar o projeto de PPP anunciado pela Compesa que tem o objetivo de sanear entre 80 a 90 por cento dos 14 municípios metropolitanos e mais a cidade de Goiana, na Mata Norte, nos próximos 12 anos.

É realmente de assustar a possibilidade de Pernambuco vir a criar a maior PPP do Brasil na área de saneamento com faturamento estimado de R$ 16,7 bilhões nos 35 anos a serem dados, em concessão, à iniciativa privada, que se propõe a investir R$ 3,5 bilhões que serão somados a mais R$ 1 bilhão a serem bancados pelo estado.

Se o PT não participasse do Governo do Estado e o PSB não estivesse no poder seria difícil levar à frente esta empreitada sem grandes mobilizações e greves como aconteceram no Governo Jarbas quando parte das ações da Compesa foram cedidas à estatal federal em troca de um empréstimo para garantir obras de abastecimento d`água imprescindíveis para tocar os investimentos em Suape.

É de comemorar que o governador Eduardo Campos, que derrubou esta providência do governo Jarbas, tenha agora evoluído ao ponto de ele próprio tomar a iniciativa de privatizar o saneamento.

Por mais que os trabalhadores da Compesa mereçam o respeito da sociedade e salários condizentes com o trabalho que realizam, Pernambuco não pode mais conviver com uma empresa de saneamento que não faz saneamento e que também não consegue dar conta das obras necessárias de abastecimento d´água.

Cabe ao TCE, como está fazendo, acompanhar a licitação imensa que o estado vem tocando bem como a execução da obra. A imprensa, da mesma forma, tem um papel imprescindível e salutar neste campo mas o saneamento precisa chegar com urgência para que nossa cidade volte a ser cheirosa como todos desejamos desde que nos entendemos como gente.

CURTAS

Greve

No Governo Jarbas Vasconcelos, a Polícia Civil, cujo sindicato era controlado pelo PT, fez diversas greves, algumas que duraram meses. Chocava a todos ver os policiais jogando dominó enquanto as delegacias se encontravam abandonadas. No Governo Eduardo esta é a primeira greve dos policiais civis. Coincide com o momento em que o PT está às turras com o PSB por conta de eleição do Recife.

Investimentos parados

A obra da Transposição do São Francisco está quase parada, a da Transnordestina está a passo de cágado e a Refinaria Abreu e Lima, em Suape, que deveria ter sido inaugurada em 2010, como prometeu o presidente Lula, já teve seu custo elevado de R$ 2 bilhões para R$ 20 bilhões e não há previsão de término. Se não forem tomadas providências urgentes em função da crise econômica, as três podem acabar virando elefantes brancos.

Porto Norte

Não se tem notícia concreta do anunciado Porto que o Governo do Estado prometeu construir na Zona da Mata Norte. Sua concretização, inclusive, fez parte do acordo para que a Fiat se instalasse em Goiana.

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