O Supremo, o Senado e o fósforo riscado por Lula

A escolha de Jorge Messias para ocupar a cadeira deixada por Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal desencadeou exatamente o que muitos no mundo político previam: uma tempestade institucional. Lula sabia que não seria uma indicação pacífica, mas talvez nem o Planalto esperasse que Davi Alcolumbre reagisse com tamanho estrondo. O presidente do Senado, hoje detentor de um dos poderes mais sensíveis da República – o controle do ritmo das sabatinas do STF – deixou claro que encarou o movimento presidencial como uma afronta pessoal e institucional.
Do Amapá, onde cumpre agenda, Alcolumbre desligou o telefone para Brasília, gesto raro em tempos de hiperconectividade. Mas antes, mandou recado: não foi consultado, não foi avisado e, pior, rompeu ligações com Jaques Wagner, líder do governo no Senado. A mensagem foi cristalina — e pública: a cortina de boa convivência entre Planalto e Senado rasgou no meio.
Nos bastidores, auxiliares de Lula tentam demonstrar calma, mas a irritação é evidente. Há um reconhecimento de que a situação degenerou mais rapidamente do que o esperado. “Queriam que o Senado escolhesse o ministro do Supremo?”, resmungou um integrante do governo, ecoando a percepção de que era inevitável entrar em rota de colisão. O cálculo interno é conhecido: Messias nunca teve votos sobrando e, no cenário atual, não atinge o mínimo necessário. Com Alcolumbre no papel de opositor declarado, o desafio se transforma em quase missão impossível.
Ainda assim, Lula bancou a indicação justamente porque não quis abrir mão de um princípio: o de que a atribuição de escolher ministros do Supremo pertence ao Executivo. Para o presidente, ceder seria admitir que o Parlamento passou a controlar inclusive esse último território de autonomia institucional. Desde o avanço das emendas parlamentares e do fortalecimento do Legislativo no ciclo pós-pandemia, essa tensão vinha se acumulando. A nomeação de Messias virou o estopim.
No Senado, por sua vez, já surgem vozes defendendo uma tática agressiva: atropelar o governo, marcar a sabatina de imediato e jogar o nome ao plenário no mesmo dia, impedindo qualquer articulação de última hora do Planalto. Seria um gesto de força para sinalizar quem dita o compasso da Casa Alta.
O impasse coloca governo e Senado diante de um duelo que nenhum deles desejava escancarar, mas que agora precisa ser travado à luz do dia. A eventual rejeição de Messias representaria um revés de grandes proporções para Lula, minando autoridade e expondo fragilidade política. Se, ao contrário, o advogado-geral da União for aprovado apesar da oposição explícita de Alcolumbre, o presidente do Senado sai chamuscado — e sua hegemonia na CCJ passa a ser questionada.
Os negociadores ainda vão tentar desarmar o conflito. Mas, objetivamente, o incêndio começou. Lula acendeu o fósforo. E Alcolumbre parece disposto a transformar a faísca em labareda.
Na Mata Norte – A governadora Raquel Lyra cumpre, nesta sexta-feira (21), uma agenda intensa na Mata Norte, que inclui a formatura de 180 alunos do curso técnico em Agroecologia, em Glória do Goitá, seguida da autorização para o início das obras de restauração da PE-040, em Chã de Alegria, e, já em Paudalho, a assinatura das ordens de serviço para a construção de uma nova creche com 10 salas e o recapeamento de 64 ruas, beneficiando cerca de 24 mil moradores.
Encontro – Após dias de especulações sobre um eventual rompimento, o prefeito João Campos (PSB) e a ex-deputada Marília Arraes reapareceram juntos em uma foto publicada por ambos nas redes sociais, gesto que encerra os rumores de que ela poderia migrar para o palanque de Raquel Lyra; ao escrever “projetando muita coisa boa pela frente”, João sinalizou não só a preservação da aliança, mas a construção de um entendimento político ainda mais amplo para 2026.
Retirada – Os Estados Unidos anunciaram nesta quinta-feira (20) a retirada da tarifa de 40% sobre mais de 200 produtos brasileiros — entre eles carne bovina, café, açaí e cacau — em decisão publicada pela Casa Branca e válida para itens que ingressaram no país a partir de 13 de novembro, mesma data da reunião entre Mauro Vieira e o secretário de Estado Marco Rubio; a medida reverte parte do tarifaço imposto por Donald Trump, que já havia sido parcialmente reduzido na semana passada, e devolve itens como café e carne aos patamares anteriores às sobretaxas aplicadas ao Brasil.
CPI do Banco Master – Deputados começaram a articular a criação da CPI do Banco Master após a prisão de Daniel Vorcaro e outros executivos por suspeita de manipulação de ativos e desvio de recursos, com Paulinho da Força e Luciano Bivar discutindo liderar a iniciativa para garantir acesso aos materiais apreendidos pela Polícia Federal; a ofensiva parlamentar ganha peso diante das amplas conexões políticas de Vorcaro — que vão do Centrão a figuras do governo — e das doações milionárias feitas por seu cunhado e por ele próprio a campanhas de Tarcísio de Freitas, Jair Bolsonaro e outros nomes relevantes do cenário nacional.
Inocente quer saber – Qual será o efeito político do escândalo envolvendo o Banco Master?



