
Uma nova pesquisa do Datafolha trouxe à tona algumas percepções curiosas sobre a política brasileira. Metade do eleitorado acredita que o Brasil corre o risco de se tornar um país comunista, uma visão frequentemente explorada pelo bolsonarismo ao criticar o governo do ex-presidente Lula. Por outro lado, a maioria das pessoas não enxerga um legado positivo na ditadura militar de 1964, uma narrativa comum entre os discursos da direita.
Os dados da pesquisa, realizada entre os dias 12 e 14 de junho, revelam que 52% dos entrevistados concordam com a afirmação infundada de um possível regime comunista no país. Dentre esses, 33% concordam totalmente e 19% parcialmente. Não surpreendentemente, essa crença é ainda mais alta entre os eleitores que votaram em Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2022, quando o atual presidente foi derrotado por Lula com uma pequena margem.
O discurso do ex-presidente sempre mencionou essa suposta ameaça comunista, inclusive em seu discurso de posse em 2019. O apoio do Partido dos Trabalhadores (PT), que originalmente se autodenominava socialista, e de Lula a ditaduras de esquerda na América Latina contribui para manter essa percepção.
No entanto, 42% dos entrevistados rejeitam essa noção infundada, sendo que 30% a rejeitam totalmente e 12% parcialmente. Curiosamente, 61% dos eleitores de Lula descartam a hipótese, mas 32% deles ainda a consideram crível. Surpreendentemente, 42% das pessoas com curso superior, que teoricamente têm mais acesso a informações de qualidade, acreditam nesse cenário comunista.
Em relação à ditadura militar, os números mostram que a maioria (47%) não reconhece benefícios ao país durante o regime que durou 21 anos. Dentre esses, 35% têm convicção nessa visão negativa. Por outro lado, 36% concordam que a ditadura trouxe coisas positivas ao país, sendo que 15% têm essa visão de forma incondicional. Esse índice aumenta para 44% entre os eleitores de Bolsonaro, um defensor declarado do regime militar.
A pesquisa também revela um dado curioso sobre a polarização política no país. Embora 29% dos entrevistados se autodenominem “petistas raiz” e 25% se considerem “bolsonaristas de carteirinha”, quando questionados sobre os legados dos governos do PT e de Bolsonaro, 33% veem aspectos positivos em ambos os períodos. A maioria desse grupo (58%) votou em Bolsonaro, enquanto 33% apoiaram Lula. Entre os apoiadores de Lula, 29% aprovam o atual presidente, 41% o veem de forma neutra e 27% o reprovam.
Em relação ao PT, 66% acreditam que o partido deixou benefícios para o Brasil, dividem-se entre 36% que concordam totalmente com essa afirmação e 31% que concordam parcialmente. Por outro lado, 29% rejeitam a ideia de um legado positivo do PT.
A análise dos dados revela que a satisfação com o legado petista é maior entre grupos tradicionalmente eleitores do partido, como os nordestinos (75%) e os mais pobres (71%), que representam o maior grupo populacional da pesquisa, com 48% dos entrevistados. No entanto, a opinião é mais dividida entre aqueles que escolheram Bolsonaro em 2022, com 49% considerando o PT prejudicial e 47% vendo benefícios, mostrando uma comunidade de opiniões entre os grupos que apoiaram os dois políticos em diferentes momentos.
Quando se trata da avaliação do legado de Bolsonaro, 57% dos entrevistados veem aspectos positivos, sendo que 31% têm essa visão de forma convicta e 26% parcialmente. Assim como ocorre com o petismo, esses números são mais altos entre os evangélicos (66%), moradores do Centro-Oeste (64%) e empresários (88%), que representam um segmento minoritário da amostra (2%). Por outro lado, 39% rejeitam os feitos do governo bolsonarista, sendo que 29% o fazem de forma incondicional.
A pesquisa também abordou a pecha bolsonarista de que o PT não respeita a “família cristã”. Nesse sentido, 51% dos entrevistados discordam dessa afirmação, enquanto 39% concordam. Entre os evangélicos que apoiam o ex-presidente, 53% concordam com essa acusação. Já entre os católicos, que representam a maioria, mas são menos politicamente organizados (47% dos entrevistados), 57% discordam.
Por fim, a pesquisa revela que fatores religiosos ainda exercem influência na política brasileira. Quando perguntados se “Política e valores religiosos devem sempre andar juntos para que o Brasil possa prosperar”, 65% concordam, enquanto 32% discordam. Essa opinião é semelhante entre os apoiadores de Lula e Bolsonaro, mas a rejeição a essa afirmação aumenta entre os grupos mais escolarizados, com 51% daqueles que possuem curso superior discordando.
Os resultados da pesquisa do Datafolha destacam a diversidade de percepções e opiniões no cenário político brasileiro, mostrando como a polarização se manifesta em diferentes questões, como comunismo, ditadura militar, legados dos governos do PT e de Bolsonaro, além do papel da religião na política. Esses dados são importantes para compreender o panorama político e as narrativas que permeiam a sociedade brasileira atualmente.



