
Existe uma diferença brutal entre administrar e transformar. Fernando de Noronha conheceu bem essa distinção nos últimos anos. Durante década e meia sob comando do PSB, o arquipélago funcionou como cenário bonito para fotos oficiais, mas pouco além disso. Os números do Portal da Transparência contam uma história reveladora: entre 2007 e 2022, os investimentos em infraestrutura na ilha mal ultrapassaram sessenta milhões de reais, distribuídos de forma errática ao longo de quinze anos. Obras inacabadas, equipamentos sucateados e projetos estruturantes que jamais saíram do papel marcaram esse período de letargia administrativa.
O contraste com o momento atual dispensa interpretações elaboradas. Desde 2023, a gestão do Governo do Estado já destinou mais de quinhentos milhões de reais para Fernando de Noronha — um volume financeiro que supera em mais de oito vezes tudo o que foi investido nas três gestões anteriores somadas. A diferença fundamental reside na capacidade de articular parcerias público-privadas capazes de transformar projetos em realidade. Enquanto governos anteriores tratavam empresas como adversárias ou meras pagadoras de impostos, a administração atual entendeu que desenvolvimento sustentável exige colaboração estratégica entre Estado e iniciativa privada.
A Usina Solar Noronha Verde exemplifica perfeitamente essa nova abordagem. A Neoenergia, do grupo espanhol Iberdrola, está investindo trezentos e cinquenta milhões de reais para transformar a ilha na primeira do mundo — oceânica e habitada — com energia totalmente limpa até 2027. Mais de trinta mil painéis fotovoltaicos serão instalados, eliminando a dependência de combustíveis fósseis que caracterizou décadas de gestão acomodada. A capacidade de geração dobrará, os custos operacionais despencam, e Pernambuco se posiciona na vanguarda das discussões climáticas globais. Esse investimento privado só veio porque encontrou um governo disposto a criar condições e remover obstáculos burocráticos — algo impensável nas administrações anteriores.
Os dados oficiais revelam que, entre 2007 e 2018, os investimentos em energia na ilha não chegaram a três milhões de reais. De 2019 a 2022, esse valor subiu para míseros oito milhões, sempre em ações paliativas que mantinham um sistema arcaico funcionando precariamente. A diferença para os trezentos e cinquenta milhões atuais da Neoenergia fala por si só. O timing dessa transformação energética não poderia ser melhor: às vésperas da COP30, que será sediada pelo Brasil, Fernando de Noronha surge como vitrine concreta de que a transição energética transcende a retórica ambientalista quando existe comprometimento real.
A Compesa também entrou nessa onda de investimentos significativos. A companhia está aplicando mais de quarenta milhões de reais na ampliação e modernização do sistema de esgotamento sanitário, incluindo a construção da nova Estação de Tratamento de Esgoto do Boldró. Entre 2007 e 2022, segundo registros do Portal da Transparência, foram investidos pouco mais de doze milhões em saneamento — valor insuficiente para resolver um problema estrutural que ameaçava o ecossistema marinho. A estatal também inaugurou a usina solar fotovoltaica flutuante no Açude do Xaréu, investimento de quatro milhões e duzentos mil reais que supre trinta por cento de seu consumo na ilha e evita a emissão de mais de setecentas toneladas de CO₂ por ano.
A saúde viveu abandono semelhante ao enfrentado em outras áreas. O Hospital São Lucas operou anos com equipamentos obsoletos e estrutura precária. Entre 2007 e 2022, foram investidos pouco mais de quatro milhões em equipamentos e reformas no hospital, distribuídos de forma irregular. Agora, sete milhões e meio estão sendo aplicados apenas na ampliação e modernização do ambulatório, com aquisição de tomógrafo, substituição completa de aparelhos de raio-x e ultrassom, além de equipar todo o bloco cirúrgico com padrão continental. Moradores que antes precisavam evacuar para o continente em emergências médicas passam a contar com infraestrutura adequada.
A educação também entrou na lista de prioridades. A escola estadual da ilha recebeu investimento de três milhões e oitocentos mil reais para reforma completa, ampliação de salas de aula, modernização de laboratórios e implantação de conectividade digital. Entre 2007 e 2022, os investimentos em educação no arquipélago somaram menos de dois milhões, sempre em reparos emergenciais que não enfrentavam os problemas estruturais. Agora, os estudantes insulares contam com instalações comparáveis às das melhores escolas do continente.
O Aeroporto de Fernando de Noronha representa outro capítulo dessa transformação. Administrações anteriores investiram aproximadamente nove milhões em melhorias pontuais ao longo de quinze anos. A gestão atual destinou vinte e dois milhões para a modernização completa do terminal de passageiros, ampliação da pista, instalação de equipamentos de segurança de última geração e construção de um novo pátio de aeronaves. O aeroporto deixou de ser um gargalo que limitava o turismo e passou a funcionar como porta de entrada moderna e eficiente, capaz de processar um fluxo crescente de visitantes sem comprometer a experiência ou a segurança operacional.
A governadora sintetizou bem a filosofia que norteia as ações ao afirmar que destinos turísticos só funcionam plenamente quando também são bons para seus moradores. Um conceito elementar que escapou completamente das administrações anteriores, obcecadas em vender uma imagem paradisíaca enquanto negligenciavam condições básicas de vida local. Infraestrutura, saúde, educação, energia limpa e saneamento adequado deixaram de ser promessas eleitorais e se tornaram entregas com cronograma definido e recursos assegurados.
Fernando de Noronha finalmente recebe tratamento compatível com sua relevância estratégica. O arquipélago deixou de ser moeda de troca política e se tornou prioridade capaz de colocar Pernambuco no centro do debate global sobre sustentabilidade. A ilha não espera mais por promessas que nunca se concretizam: virou canteiro de transformações que o mundo observa como exemplo de gestão pública comprometida com resultados, capaz de articular parcerias estratégicas que multiplicam investimentos e aceleram mudanças.
Marcelo Rodrigues é professor e advogado.



