
A resistência do bolsonarismo e o ambiente eleitoral de 2026
As manifestações deste domingo (3) em dezenas de cidades brasileiras, lideradas por expoentes da direita, reafirmaram que o bolsonarismo está longe de ser uma força política esgotada. Mesmo sem a presença física de Jair Bolsonaro — ainda restringido por medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal —, os atos levaram às ruas milhares de pessoas com pautas muito claras: anistia para os condenados do 8 de janeiro, repúdio a Alexandre de Moraes e crítica à gestão de Lula. Em termos simbólicos e políticos, os protestos traçam um cenário bastante incômodo para o Palácio do Planalto.
O bolsonarismo, mais do que uma figura, tornou-se um movimento. A presença de Michelle Bolsonaro em Belém, Silas Malafaia em São Paulo, parlamentares do PL, e pastores evangélicos por todo o país mostrou que há uma rede articulada, com estrutura, discurso e capilaridade social. O discurso não se limita mais à defesa de Bolsonaro como indivíduo, mas evoluiu para um enfrentamento às instituições que, na visão dos manifestantes, atuam com parcialidade e autoritarismo — com Alexandre de Moraes como alvo central.
Essa movimentação ocorre num momento de fragilidade crescente do governo Lula. A economia, embora sob controle no macro, segue patinando no micro. A inflação de alimentos voltou a subir, o desemprego entre jovens permanece alto e, sobretudo, o sentimento de desalento está se espalhando entre os que votaram com esperança em 2022. Soma-se a isso uma base parlamentar cada vez mais instável e uma comunicação de governo que não empolga nem mobiliza a opinião pública.
As críticas à politização do Judiciário, especialmente ao protagonismo de Moraes, têm encontrado eco fora da bolha bolsonarista. Liberais, juristas e até setores mais moderados já começam a se preocupar com os limites tênues entre justiça e política. Essa inflexão é aproveitada com habilidade pela direita, que reorganiza sua narrativa em torno da “defesa das liberdades”, da “restauração da democracia” e da crítica à judicialização da política.
Para 2026, o cenário é menos confortável para Lula do que muitos supõem. A ancoragem de sua candidatura à reeleição depende fortemente de fatores que estão escapando ao seu controle: a economia melhorar na ponta, a pacificação institucional com o Congresso e a contenção de crises jurídicas e de imagem. Ao mesmo tempo, o campo adversário se reorganiza — com Michelle Bolsonaro sendo testada como possível candidata, ou ainda nomes como Tarcísio de Freitas ou Romeu Zema ganhando musculatura nacional.
O bolsonarismo, mesmo sem Bolsonaro elegível (o que ainda não é definitivo), conseguiu mostrar que tem rua, tem povo e tem pauta. E para quem conhece a história da política brasileira, esses são três pilares essenciais para qualquer projeto vitorioso. Lula, que em 2006 surfou no “lulismo raiz” para se reeleger com folga, agora precisará de muito mais do que carisma e memória afetiva para repetir o feito.
Em suma, o jogo para 2026 está aberto. E se alguém duvidava da força do bolsonarismo, este domingo serviu como um lembrete eloquente: ele segue vivo, organizado e cada vez mais competitivo.
Subindo o tom – Durante ato bolsonarista em Belém neste domingo (3), a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) subiu o tom contra o presidente Lula, chamando-o de “cachaceiro sem vergonha”, “irresponsável” e “mentiroso”, além de acusá-lo de entregar as riquezas do país a comunistas e ditadores. Em clima de pré-campanha, Michelle afirmou que “a semente já brotou no coração do povo” e denunciou suposta perseguição às liberdades religiosas e de expressão, criticando ainda o Supremo Tribunal Federal e a mudança de postura do PT em relação ao ministro Alexandre de Moraes. Sua ausência no ato principal em São Paulo causou desconforto entre aliados, mas, segundo sua assessoria, a agenda no Pará já estava definida.
Congresso do PT – Durante o encontro nacional do PT neste domingo (3), em Brasília, o novo presidente da sigla, Edinho Silva, afirmou que a legenda precisa se fortalecer institucionalmente para manter seu projeto político após a saída de Lula das disputas eleitorais. Diante de Lula e 11 ministros, Edinho disse que a sucessão não se dará em torno de um nome, mas do próprio partido. Ele também atacou o presidente dos EUA, Donald Trump, chamando-o de “maior líder do fascismo” e criticou duramente Jair Bolsonaro. Lula, por sua vez, fez referência indireta ao ex-presidente ao acusar seus aliados de “trair a pátria” ao buscar apoio internacional contra o Brasil, defendendo ainda o resgate dos símbolos nacionais pelo campo progressista.
Brasília – Hoje embarco rumo à capital federal para acompanhar a semana política com a retomada dos trabalhos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, além, naturalmente dos desdobramentos das sanções da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes.
Inocente quer saber – Michelle Bolsonaro será o nome da direita em 2026?



