Os acontecimentos dos últimos meses na música brasileira, em especial com cantores de Axé Music, vem mostrando que ela precisa de um rearranjo sob pena de inviabilizar um mercado que se mostrou competitivo por muitos anos.
No caso do Axé vimos bandas como Chiclete com Banana e Asa de Águia serem obrigadas a replanejar seu futuro. O Chiclete teve a saída de Bell Marques dos vocais, enquanto Durval Lelys passou a se apresentar sem utilizar a marca Asa de Águia.
Isso foi visto também na saída de Saulo Fernandes da Banda Eva, na de Alinne Rosa do Cheiro de Amor e muitos outros casos. Essa desarmonia deixa claro que algo não vai bem na música brasileira e principalmente no ritmo baiano que embalou as décadas de 90 e 2000 liderando as paradas de sucesso.
Seria falta de inovação? Talvez. Mas o que aparenta mesmo ser é que houve uma inflacionada nos cachês que inviabilizaram muitas coisas. Será que é saudável financeiramente você pagar R$ 300 ou R$ 400 mil a bandas e artistas como Asa de Águia, Chiclete com Banana, Ivete Sangalo ou Claudia Leitte?
No decorrer do tempo vimos tanto o novo Chiclete com Banana quanto a carreira solo de Bell Marques amargarem cancelamento de shows por falta de público. Já no carnaval de Salvador isso estava evidenciado. Elevaram os valores dos abadas do Camaleão e Nana Banana, que quase triplicaram de valor.
O resultado disso foi uma redução da demanda para a ida de turistas ao carnaval de Salvador que habitualmente desfilavam nos blocos liderados pelo Chiclete. Isso serviu para os demais artistas.
Hoje Bell, Durval, Ivete e cia estão sentindo dificuldades consideráveis. No forró também não há muita diferença. Garota Safada e Aviões do Forró chegaram a cobrar R$ 150 mil de cachês. Valor exorbitante para a realidade do ritmo.
Na música brasileira só existe um artista que arrasta público e um ritmo que consegue ser auto-sustentável. O artista é a dupla Jorge e Mateus. Enquanto o ritmo é o sertanejo. Mas inexoravelmente eles irão sentir na pele as dificuldades que os artistas dos outros ritmos estão sentindo. É só uma questão de tempo.
É preciso observar também outros fatores como conforto e segurança do cliente. As pessoas saem de casa para um show desses e se sente desconfortável. É cerveja quente e cara. Risco de ser abordado pela Lei Seca. O transporte público é um fiasco. O taxi não supre a demanda em dias de grandes eventos, etc.
Está claro que os artistas, patrocinadores e produtores de eventos precisam dar um freio de arrumação nestes pontos se quiserem voltar a fazer sucesso com o público. Precisam visar mais a satisfação do público em detrimento dos lucros excessivos. São vários stakeholders envolvidos e eles precisam ser respeitados se quiserem retomar o sucesso do setor.
Uma coisa é certa. Do jeito que está não pode continuar.



