Durante audiência no Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo testemunhas convocadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e pelas defesas dos réus do chamado Núcleo 1 da suposta tentativa de golpe, o ministro Alexandre de Moraes protagonizou um momento de tensão ao se exaltar com o advogado Eumar Novak, defensor do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
A irritação ocorreu após o advogado repetir diversas vezes um questionamento sobre a presença de Torres em reuniões com o general Marco Antônio Freire Gomes, do Exército. Diante da insistência, Moraes reagiu:
“Não estamos aqui para fazer circo. Não vou permitir que Vossa Excelência faça circo no meu tribunal. Não adianta ficar repetindo seis vezes a mesma pergunta”, declarou o ministro, elevando o tom.
Repercussão crítica
A declaração repercutiu negativamente entre políticos e especialistas do meio jurídico, que viram na postura do ministro um sinal de autoritarismo e personalização de uma instituição pública.
Juristas e comentaristas jurídicos ironizaram a fala, observando que, embora o Supremo Tribunal Federal esteja previsto na Constituição — elaborada por representantes eleitos pelo povo —, a atitude do magistrado sugere um distanciamento entre o Judiciário e a sociedade.
Uma das críticas mais compartilhadas nas redes sociais foi a de que “o povo não é dono do circo”, numa alusão ao comentário feito por Moraes.
O advogado constitucionalista André Marsiglia, que também é colunista do Pleno.News, comentou:
“Engraçado, como o STF está previsto na Constituição e ela foi elaborada por parlamentares, representando o povo, achei que o tribunal fosse nosso. Mas, tem razão, ministro, não é o povo o dono do circo.”
Outra voz do meio jurídico, a doutora em Direito Érica Gorga, considerou a declaração uma “confirmação simbólica” de que o STF estaria se tornando uma instituição privada, algo inconstitucional e contraditório, sobretudo sob um governo que se declara contrário à privatização.
Reações políticas
A repercussão também alcançou o Congresso Nacional. O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) afirmou que o ministro “cospe na Constituição” ao tratar o tribunal como propriedade pessoal e criticou o silêncio do Senado diante da conduta de Moraes, sugerindo que caberia um processo de impeachment.
O deputado estadual Gil Diniz (PL-SP) também repudiou as declarações e associou a postura do ministro ao que chamou de “aparelhamento da Justiça”. Em sua fala, ele fez menção ao deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos, e expressou apoio às ações do parlamentar no exterior, onde busca denunciar, segundo ele, “abusos do Judiciário brasileiro” em fóruns internacionais.
Diniz exaltou a atuação de Eduardo Bolsonaro, afirmando que ele “abriu mão do convívio com a família e do mandato para defender a liberdade”. E concluiu com um tom de resistência: “O Brasil vai se levantar contra esses tiranos. E a liberdade vai vencer.”