Blog Edmar Lyra

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Postado por Estefane Hermano às 14:30 pm do dia 16 de dezembro de 2025

A química de Lula

Foto: Divulgação

Certa feita perguntaram a atriz Audrey Hepburn qual o segredo de sua beleza, e ela teria respondido “uma memória fraca”. De fato, há momentos em que a ignorância é uma benção. Mas não é o que acontece comigo, para o bem ou para mal, sou dotado, ainda, de uma memória tenebrosa. Tendo sido testemunha ocular de diversos momentos da cena política pernambucana, guardo com riqueza todos os detalhes vividos.

Recentemente muito se comenta sobre ter “rolado” uma química entre o presidente Lula e o Presidente Trump. Não tive como não recordar de um texto que escrevi e postei no facebook em 13 de fevereiro de 2020, relatando alguns fatos, mas sobretudo como rolou a “QUÍMICA” entre o então presidente Lula e o à época deputado federal Eduardo Campos. Segue abaixo a integra do texto postado e cheguem à conclusão que bem entenderem. Mas nesse caso a química tinha nome: Cachaça.

“O filosofo irlandês Edmund Burke afirmou que “Quem não conhece sua História está condenado a repeti-la”. Outro ensinamento vem do historiador Eduardo Galeano: “A história é um profeta com o olhar voltado para trás: pelo que foi, e contra o que foi, anuncia o que será”. Dito isso, em que pese particularmente não crer mais na força eleitoral do ex-presidente Lula, atualmente condenado por três instâncias judiciais por crimes diversos, pré-candidatos a prefeitura do Recife flertam com o mesmoem busca de seu apoio. Em sua última passagem pela capital pernambucana, dito ex-presidente almoçou com um desses pré-candidatos, tendo ainda, jantado com outra pré-candidata, ambos com esperança de serem agraciados como candidato oficial de tal figura política. Parece-me que o fogo nos campos políticos já foram ateados há muito tempo, e talvez agora que iniciamos ano eleitoral as chamas estão mais evidentes e fortes.

Recordo-me de dois fatos que o finado Eduardo Campos costumava se gabar. A primeira era o fato de ter sido monitor na cadeira de estatística no início de seu curso de Economia. Sabia ler números, dados, comportamentos, tendências e pesquisas como ninguém. Seu cérebro funcionava como Big Data que vislumbrava com imensa antecedência cenários políticos e eleitorais.

Não eram bruxos nem mágicos, muito menos institutos de pesquisas que o fizeram vitorioso em sua caminhada que se encerrou no trágico acidente aéreo. Tinha faro mas sabia usar a ciência como aliada. Falava muito: “Vou ganhar, isso não é palpite! É ciência! Você não confia em mim?” Foi assim quando foi candidato ao governo em 2006, quando resolveu lançar o técnico Geraldo Júlio candidato a prefeito do Recife em 2012, rompendo com o PT, e também em 2014, quando ele próprio transmitia confiança e segurança em sua candidatura presidencial naquele ano. Merece destaque que aqueles que se intitulam herdeiros do seu capital político não possuem as virtudes que destaquei acima. Se limitam a reproduzir aquilo que as pesquisas sugerem, sem qualquer juízo crítico. Até cor da gravata é escolhida pela chamada pesquisa qualitativa. Se a pesquisa indica que é bom eleitoralmente se abraçar com o inimigo de outrora, assim o fazem sem qualquer pudor. Se no dia seguinte o neo-aliado voltou a ser inimigo, ameaças veladas são lançadas com profunda arrogância, tudo porque a pesquisa assim recomenda. Curioso ver por exemplo que Eduardo estava bem mais à direita do que aqueles que buscam o título de filhos da esperança. De igual modo, Arraes tanto em 1962 com Paulo Guerra, em 1986 com Antônio Farias e em 1994 com Armando Monteiro Filho, buscou alianças com setores conservadores e de direita da política pernambucana. Parece-me que ou desconhecem os fatos, ou a opção de guinada à esquerda improdutiva e oportunista é mais estratégia eleitoral do momento.

Outro fato que fazia os olhos de Eduardo brilharem era narrar quase como um conto de Ariano Suassuna de como sua amizade com Lula se estreitou. Se os fatos não foram exatamente como se seguirá, se estão historiados demais, é certo que reproduzo com fidelidade o que por várias vezes me foi relatado pelo próprio Eduardo, inclusive diante de outros ouvintes.

Dizia ele que era apenas mais um deputado federal em Brasília. Morando só, pois sua família não se adaptara à morada no DF. Insistia com amigos que porventura fossem à Brasília, que dormissem em seu apartamento funcional ao invés de se hospedarem em hotéis, pois era um 4 quartos com bastante espaço e só um dos cômodos ocupado. Eu mesmo tive a oportunidade de pernoitar algumas vezes em seu apê, que além do próprio Eduardo contava com a presença de seu motorista, seu Esmerino, e de sua esposa.

Eduardo já conhecia Lula, sobretudo pela relação que este tinha com seu avô, Dr. Arraes, mas não mantinham o que se chama de amizade íntima. Embora fosse o mais indicado para integrar o governo federal, ainda pesava contra ele o conhecido episódio dos “precatórios”, tanto que o PSB inicialmente indicou Roberto Amaral para o Ministério de Ciência e Tecnologia e, após ser inocentado pelo STF, o próprio Eduardo assumiu a referida pasta.

Antes disso porém, certa noite, o ajudante de ordens do então presidente Lula, liga para Eduardo dizendo que o presidente o convidara para ir ao palácio da Alvorada para participar de uma confraternização com outros deputados. Eduardo pensou: “porque não?”, foi então ao referido encontro.

Lula tinha por hábito ou estratégia chamar vários deputados e senadores para bate papos, trocar ideias, se aproximar deles, e por isso fazia encontros informais no Alvorada. Enquanto alguns parlamentares preferiam scotch 12 anos, outros vinhos do velho mundo, o presidente gostava mesmo de tomar aguardente, a famosa branquinha. Eduardo, que também era chegado numa branquinha, tomava seu whisky e entre uma dose e outra, também tomava uns goles de cachaça. A partir daí, os convites para esses encontros informais continuaram ocorrendo, e Eduardo então percebeu que a cada semana os convidados eram outros, novos parlamentares eram chamados, mas ele, permanecia sempre sendo convidado. Virou uma espécie de companhia permanente, pois Lula enxergou nele não apenas um político promissor, mas um companheiro na degustação da bebida de sua preferência. Dizia que desenvolveu com ele uma relação quase de pai para filho. Tempos depois, costumeiramente quando Lula vinha ao Recife, era recebido na residência de Eduardo com algumas garrafas de Anísio Santiago, uma aguardente mineira, de tom amarelado, quase licorosa mesmo em temperatura ambiente, preferida de ambos. Pode-se dizer que a partir daqueles encontros informais em Brasília surgiu uma amizade profícua para o Estado de Pernambuco. Justamente nos anos em que um ocupou a presidência e o outro o governo do Estado, Pernambuco viveu seu melhor momento político, econômico, social, e em tantos outros aspectos. Essa simetria governo federal e governo estadual não voltou a acontecer, sendo evidente os malefícios da ausência de alinhamento. Eduardo usou muito esse tipo de expediente. Era comum convidar deputados até mesmo de oposição para conversas no Palácio do Campo das Princesas ou até mesmo em sua casa em Dois Irmão para, entre um gole de scotch ou outras bebidas, trocarem ideias e impressões sobre cenários locais e nacionais. Duas presenças certas eram dos saudosos Guilherme Uchoa e Ettore Labanca.

Mas quem conheceu de perto os fatos, sabe muito bem que o Lula sempre foi um vendedor de ilusões, um animal político cujas relações pessoais são tão tênues quanto fios de seda, salvo poucas exceções. Somente se aproxima de quem enxerga a possibilidade de tirar algum proveito e que obedeça fielmente sua cartilha. Eduardo lhe foi útil para acalmar o congresso, sobretudo no fervor do Mensalão, tendo sido inclusive testemunha de defesa de José Dirceu a pedido do próprio Lula na CPI do Mensalão no Congresso. Foi útil na eleição de Dilma em 2010, quando coordenou a campanha dela no Nordeste e assumindo coordenação geral de modo informal no segundo turno, quando os três porquinhos (zé Eduardo Dutra, já falecido, Zé Eduardo Cardoso e Antônio Palloci) batiam cabeça, e quase levam à derrota a candidata de Lula. Essa via de mão dupla também serviu para Eduardo, mas quando este resolveu se lançar candidato à presidência já em 2012, rompendo a aliança com o PT na capital Pernambucana, a “amizade” sofreu profundo abalo. Na morte de Eduardo (Ariano indagaria: “morte morrida ou morte matada?”), não passou desapercebido o fato de que, enquanto Lula estava no velório abraçando a família enlutada, seu fiel escudeiro Francisco Rocha, o Rochinha do PT postava twitters questionando a titularidade do avião usado por Eduardo quando de seu falecimento, já o acusando de usar laranjas para a aquisição ou uso da referida aeronave, episódio que culminou com a chamada operação turbulência desencadeada pela Policia Federal. Dizem que políticos não tem amigos, tem interesses. E aí eu pergunto, qual desses pretendentes à prefeitura do Recife melhor representará os interesses do ex-presidente condenado? E mais ainda, esses interesses são os que minha cidade necessita? Respondo firmemente que, ao meu ver, não.”

Bruno Brennand – Advogado

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Edmar Lyra

Jornalista político, foi colunista do Diário de Pernambuco e da Folha de Pernambuco, palestrante, comentarista de mais de cinquenta emissoras de rádio do Estado de Pernambuco e CEO do instituto DataTrends Pesquisas. DRT 4571-PE.

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