Por Bruno Brennand
Conforme último post prometi contar como impedimos a realização de um segundo turno nas eleições de 2012, particularmente no Recife, sem o uso de mentiras, mas apenas verdades. Quando uso o plural, incluo a equipe jurídica, equipe de comunicação e estratégia de marketing e coordenação política. Essa trinca estando devidamente afinada só perde uma eleição se o candidato for muito ruim.
Já revelei como Eduardo Campos articulou para lançar candidato próprio apostando na divisão do PT, que desistiu de lançar João da Costa à reeleição e apostou na candidatura de Humberto Costa para prefeitura do Recife.
O eleitorado Recifense já cansado do PT começou a assimilar bem a candidatura de Geraldo, que sob a coordenação de comunicação e marketing do baiano Raimundo Luedy, também conhecido por Mundico, vinha fazendo uma campanha altamente propositiva. Geraldo desde que oficializado candidato só fazia crescer nas pesquisas.
O que não se esperava era que o guia muito bem feito pela equipe de Daniel Coelho, conclamando João, Maria e José tivesse aquela pegada. Criou-se uma onda, a onda verde, embora Daniel Coelho não mais fizesse parte do PV e sim do PSDB, com uma imagem inovadora, dirigindo seu carro nas ruas esburacadas do Recife, voando de Helicóptero mostrando conhecimento da cidade, e essa onda só fazia crescer sua candidatura, que rapidamente suplantou a de Humberto Costa, e ameaçou levar a eleição para o segundo turno.
Precisávamos conter esse onda, pois a tendência era inclusive ela engolir a candidatura de Geraldo. Era o João, a Maria e o José tendo vez e voz. O guia em formato de arena era muito bem feito.
Já estávamos na metade de setembro e a comunicação queria manter a campanha apenas na linha propositiva, já Eduardo Campos não. Fizemos uma reunião e levantamos alguns fatos verdadeiros sobre o candidato Daniel Coelho. Sim era verdade que quando vereador, ele e outros parlamentares foram envolvidos num chamado escândalo das notas frias. O próprio Daniel Coelho gravou vídeo explicando a situação (vide https://youtu.be/3Vb_6cLwrPs) e anos após foi completamente isentado de qualquer responsabilidade sobre esses fatos. Sim era verdade que Daniel Coelho embora defendesse a bandeira verde do meio ambiente, era empresário do ramo de combustível fóssil.
Fizemos duas peças cuja abertura era um mosaico desfocado de figuras geométricas semelhantes a um quadrado, e o locutor dizia: “se diz ético, mas está envolvido em escândalo de notas frias! Se diz defensor do meio ambiente, mas vive de combustível fóssil (petróleo/gasolina)”. Sabe quem é esse candidato? O mosaico se fundia e surgia a imagem de Daniel Coelho. Foram 2 Comerciais/inserções de 30 segundos. Apenas 30 segundos para desconstruir a imagem do adversário.
Em reunião, Raimundo Luedy e Leucio Lemos foram contra o uso das peças. Mundico era contra sair da linha propositiva, e Leucio dava como certo direito de resposta. Mas as pesquisas qualitativas, conduzidas por Diego Brandy, atestavam que elas eram devastadoras para Daniel Coelho.
Foi aí que usamos técnicas de planejamento de mídia associada à estratégia jurídica de sopesar as eventuais decisões judiciais negativas: Impacto das peças, como sendo o quantitativo de pessoas atingidas pelos comerciais, o flight de exibição das mesmas de apenas 48 horas. Porque isso? Porque o jurídico adversário entraria com ação para suspender a mídia e tentar obter direito de resposta.
Isso não seria possível em exíguo prazo, e, ainda que a justiça proibisse a veiculação de uma determinada peça (comercial de 30 segundos), uma vez impactada a audiência líquida (pessoas diferentes que foram atingidas pela campanha), substituímos a peça por outra de modo que as primeiras ações perderiam objeto e teriam que ingressar com novas ações pois os comerciais já eram outros. Dito e feito.
O crescimento de Daniel Coelho foi estagnado! Interrompeu-se a onda. Isso foi perfeitamente visível nas pesquisas eleitorais do dia 15/09/2012 até o resultado da eleição. E, por apenas 1,51% dos votos, Geraldo ganhou eleição no primeiro turno. As pílulas (como são chamadas as inserções ou comerciais eleitorais) surtiram o efeito, e os direitos de respostas só foram assegurados ao candidato após o estrago já ter surtido efeito, e assim liquidamos a eleição, por muito pouco, já no primeiro turno de forma competente.
https://eleicoes.uol.com.br/2012/pesquisas-eleitorais/recife/
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