Estávamos no final de novembro de 1998, quando um amigo comum, foi portador de convite do então Governador eleito, Jarbas Vasconcelos, para uma conversa em sua casa.
Mesmo sem ter qualquer aproximação pessoal com ele, embora o admirasse como ex-Prefeito do Recife, e político corajoso que pregava o exercício da participação popular na gestão pública, em contraponto a épocas de escuridão, cometimento e repressão, Jarbas passava o que ele realmente sempre foi, um homem que não tem a virtude ou o defeito do medo.
Pois bem, nessa conversa, ele me convidou a participar de seu governo, e me entregou um desafio que pensei ser maior do que eu mesmo, e se não o foi, reputo esse crédito ao seu apoio incondicional e à equipe que me deu irrestrita liberdade de formar.
O fato é que no decorrer do tempo fomos nos aproximando, criando empatias e, sobretudo, muita confiança de parte à parte.
Despachávamos quase que diariamente, em algumas situações até duas vezes por dia. Por mais desafiador que fosse a empreitada, ele estava 100% com o seu conjunto, até nos desacertos que são próprios da natureza humana, principalmente na complexidade do dia a dia – exercício da difícil arte que é exercer devotadamente a atividade pública.
Na verdade, mais que chefe, ele se portava com simplicidade, e se colocava como precioso conselheiro nas dúvidas, e na mediação política. No entanto, se revelava implacável na qualidade do serviço contratado, rigor nos preços, e obediência quanto aos prazos de entrega.
Aprendi muito com Jarbas, que com sua “ira santa e saúde civil” me distinguiu com a confiança de partilhar os desafios de atualizar a infraestrutura em seus múltiplos pilares, inclusive assumindo obras por delegação federal, a exemplo da BR-232 e a construção do novo terminal do aeroporto do Recife. Coube a ele, também, inaugurar um novo modelo de projeto em parceria com o setor privado para a construção da primeira via estadual concedida e pedagiada, e que viabilizou o acesso à praia do Paiva.
Passados os anos seguintes ao seu governo, continuamos a nos manter por perto, inclusive, no seu primeiro mandato no Senado Federal, acompanhando projetos e atualizando regras regulatórias relevantes nos setores de energia, gás natural, e transportes.
Quando da disputa para o Senado em 2018, fui surpreendido por novo convite de Jarbas, dessa vez para ocupar a sua suplência. Foi quando entendi que nosso encontro há 20 anos atrás não seria obra do acaso. Essa convivência selava um reencontro com vínculos formais, fruto do conhecimento sólido que temos um do outro, já testados e vividos em muitas ocasiões.
Hoje, na distância de tempos passados, testemunha de muitas quadras da vida, posso dizer que se mudaram os tempos, ficou o homem, preso às suas convicções, maduro na compreensão das circunstâncias, fiel à sua visão de mundo.
Jarbas marca a cena da política brasileira sem nunca ter perdido a identidade que construiu junto ao povo.
Fernando Dueire, é economista
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