
A revolução silenciosa que acontece em Pernambuco ganha contornos cada vez mais visíveis. O programa Redes de Inovação, lançado pela atual gestão estadual, representa uma mudança paradigmática na forma como ciência, tecnologia e inovação são tratadas no Estado. Esta iniciativa conecta universidades, empresas privadas e instituições públicas numa teia colaborativa que promete transformar definitivamente o cenário econômico pernambucano.
Os números falam por si. Enquanto a administração que governou entre 2019 e 2022 destinou aproximadamente 104 milhões de reais para área de ciência e tecnologia durante todo seu mandato, a gestão atual já mobilizou cerca de 374 milhões de reais, evidenciando um crescimento exponencial de 260% nos investimentos setoriais. Esta ampliação orçamentária reflete uma compreensão mais profunda sobre o papel estratégico da inovação no desenvolvimento regional.
O programa estadual funciona como uma engrenagem complexa onde cada componente fortalece o conjunto. Instituições de pesquisa oferecem conhecimento científico avançado, empresas trazem demandas reais do mercado, enquanto órgãos públicos garantem aplicabilidade social das descobertas. Esta triangulação virtuosa elimina a histórica desconexão entre academia e setor produtivo, problema crônico que limitava o aproveitamento do potencial científico local.
A estratégia de interiorização merece destaque especial. Durante décadas, concentrou-se excessivamente na região metropolitana do Recife, deixando vastas áreas do Estado subutilizadas em termos de desenvolvimento tecnológico. A nova abordagem reconhece que municípios como Caruaru possuem condições excepcionais para sediar polos de inovação, especialmente considerando a presença consolidada da Universidade Federal de Pernambuco e o armazém da criatividade.
O campus da UFPE em Caruaru representa um caso exemplar de potencial não explorado. Com cursos consolidados em engenharia, computação e ciências exatas, a unidade já demonstrou capacidade técnica e autonomia acadêmica suficientes para protagonizar transformações regionais. A proposta de criação de uma cidade universitária integrada a um centro tecnológico não constitui apenas expansão física, mas sim a materialização de uma visão estratégica para todo o agreste pernambucano.
Esta expansão alinha-se perfeitamente com as demandas contemporâneas da economia global. Sustentabilidade, economia circular e neutralidade de carbono deixaram de ser conceitos abstratos para se tornarem imperativos econômicos. O semiárido nordestino, com suas características climáticas específicas, oferece laboratório natural para desenvolvimento de tecnologias limpas e soluções energéticas alternativas.
A diferença metodológica entre as gestões torna-se evidente na estruturação dos programas. Enquanto iniciativas anteriores caracterizavam-se por ações pontuais e desarticuladas, a atual administração adota abordagem sistêmica, criando redes permanentes de colaboração. Os editais recentemente lançados, totalizando 22 milhões de reais, exemplificam esta nova metodologia ao contemplar áreas diversificadas como combate à violência e atenção à neurodiversidade infantil.
O programa Institutos Pernambucanos de Ciência, Tecnologia e Inovação representa marco desta transformação. Com investimentos de 4 milhões de reais para cada eixo temático, a iniciativa demonstra maturidade na gestão de recursos públicos, priorizando projetos com impacto social mensurável e sustentabilidade financeira a longo prazo.
Caruaru emerge neste contexto como peça fundamental do quebra-cabeças do desenvolvimento interior. A cidade, tradicionalmente conhecida por sua vocação comercial e cultural, possui todos os elementos necessários para se tornar referência tecnológica regional. A presença universitária consolidada, localização estratégica e dinamismo econômico criam ambiente propício para florescimento de startups e empresas de base tecnológica.
A transformação em curso transcende números e estatísticas. Representa mudança cultural profunda na forma como Pernambuco enxerga seu futuro. O Estado deixa de ser mero consumidor de tecnologias desenvolvidas em outros centros para se posicionar como produtor de soluções inovadoras, especialmente aquelas voltadas para desafios específicos do Nordeste brasileiro.
Esta revolução tecnológica promete impactos duradouros não apenas em Pernambuco, mas em toda região nordestina, estabelecendo novo paradigma de desenvolvimento baseado em conhecimento, inovação e sustentabilidade ambiental.
Marcelo Rodrigues é professor e advogado.



