Por Bruno Brennand
Fustigado pelos amigos e por minha própria esposa a retomar os relatos de minhas experiências profissionais, me animei a narrar a seguinte história. Essa aprendi com meu amigo Izael Nóbrega e é muito boa. Em uma determinada cidade pernambucana, numa das primeiras eleições diretas após o regime militar, ocorreu mais um do tradicional duelo entre os dois partidos existentes à época, o MDB de número 15 e o PDS (antiga ARENA e hoje DEM) de número 25. A chamada boca de urna já era proibida, não se podia fazer propaganda no dia da eleição, isso dava até cadeia (pelo menos até o encerramento do horário de votação) ainda mais na proximidade dos locais de votação. Foi aí que um dos assessores do candidato do PDS teve uma ideia. Mandar o sorveteiro gritar que o sorvete era 25 centavos, em alusão ao número do seu candidato! Então o sorveteiro gritava sem parar: É 25!!! OLHA O SORVETE! É 25! Isso bem na entrada de um colégio eleitoral. O jurídico do candidato do MDB logo queria mandar a polícia prender o sorveteiro pela clara boca de urna! “Chama a policia e demos o flagrante” disse um jovem advogado. Foi aí que o mais experiente da equipe disse que não iriam chamar nem polícia nem juiz. Chamaram o sorveteiro para uma conversa em particular (daquelas em que a pessoa ou se convence ou é convencida) e de repente o vendedor começou a anunciar uma promoção! AGORA É 15!!! BORA MINHA GENTE APROVEITAR QUE BAIXOU! O SORVETE AGORA É 15!!!
Isso é o que se chama fazer do limão uma limonada, e o jurídico de uma campanha eleitoral pode muito contribuir para soluções não contenciosas usando inteligência e sagacidade sempre aliada a área de comunicação.
Em 2012, me deparei com uma situação na qual a solução não passou pela judicialização de uma propaganda intencionamente negativa e pejorativa. Foi o tal do “Foi Geraldo que fez”. Os adversários haviam criado esse bordão com o intuito jocoso de dizer que de repente o candidato Geraldo tinha feito da ponte de Petrolina e Juazeiro ao forte Orange, quando na verdade Geraldo como titular de uma secretaria meio (secretaria de planejamento) não tinha feito era nada. Lembro-me do candidato incomodado demandando à sua equipe jurídica que ingressasse com todo tipo de ação para cessar os memes e “ataques” à sua pessoa. O jurídico estava pronto para disparar toda sua artilharia com representações judiciais, pedidos de liminar, direito de resposta e tal.
Foi aí que a comunicação e as pesquisas nos revelaram que aquela provocação dos adversários na verdade gerou efeito positivo a imagem do candidato, até então desconhecido do eleitorado, tornando-o de uma hora para outra num realizador, num concretizador, em alguém que efetivamente FEZ. Foi aí que decidimos em conjunto com a comunicação nada fazer, não abarrotar o judiciário com inúmeras demandas, o que nem sempre é possível sobretudo em tempo de tamanho acesso às informações como às desinformações. “É preciso entender as regras do jogo – e não ficar em estado de negação. Entender como funciona um viral não significa que você tenha que ser um teórico da conspiração ou um terrível mentiroso. O melhor contra-ataque é dominar as ferramentas e fazer a verdade viralizar” vaticinou Peter Warren Singer, cientista político norte-americano, cujo ensinamento há tempos venho praticando no meu exercício como advogado eleitoral. Na próxima história contarei como estancamos o crescimento de um candidato e evitamos o segundo turno divulgando verdades, de modo talvez até ofensivo, mas absolutamente verdades.
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