O resultado do primeiro turno das eleições de São Paulo em 2024 traz importantes reflexões sobre a configuração política da cidade e a correlação de forças entre direita e esquerda. Analisando sob a perspectiva de um entusiasta da política, é possível perceber que a eleição para a Prefeitura de São Paulo mostra a resiliência de um centro-direita pragmático e a maturidade de uma esquerda que soube fazer concessões estratégicas.
Ricardo Nunes (MDB) chegou ao segundo turno com 29,48% dos votos, consolidando sua candidatura como uma das principais da direita em São Paulo. Nunes, que enfrenta o desafio de suceder o legado de sua gestão, mostrou força ao resistir a ataques pessoais e conseguiu capitalizar o apoio do governador Tarcísio de Freitas. O governador, por sua vez, representa uma direita menos radical e mais focada na gestão, mitigando a força do bolsonarismo e criando uma narrativa de eficiência administrativa. Esse equilíbrio foi essencial para que Nunes chegasse ao segundo turno com uma base sólida de apoio.
Guilherme Boulos (PSOL), com 29,07% dos votos, também consolidou sua estratégia política ao adotar uma postura mais pragmática, afastando-se de um discurso mais anarquista. Ao trazer o PT para sua coligação, Boulos manteve sua base original, mas ampliou seu alcance, atraindo eleitores progressistas que veem nele uma liderança renovada da esquerda. Sua habilidade em adotar uma linha mais madura, sem perder sua identidade, o coloca em uma posição forte para o segundo turno, onde a disputa promete ser acirrada.
Pablo Marçal (PRTB), que obteve 28,14%, foi uma das grandes decepções da eleição. Seu comportamento nas redes sociais e a falta de um projeto político robusto acabaram por afastar o eleitorado, que viu sua candidatura como um movimento personalista e descompromissado. Apesar de sua significativa votação, a expectativa é de que Marçal enfrente desafios judiciais que podem levar à sua inelegibilidade, encerrando uma campanha marcada por abusos e soberba.
Tábata Amaral (PSB), com 9,91%, é um nome a ser observado para o futuro. Mesmo ficando abaixo das expectativas, sua firmeza e consistência em seus propósitos indicam que ela ainda tem muito a contribuir para a política de São Paulo. Seu desempenho pode não ter sido suficiente para o segundo turno, mas certamente a coloca como uma liderança progressista em ascensão.
Datena, por outro lado, com 1,84% dos votos, provou que a popularidade nos meios de comunicação não se traduz necessariamente em sucesso eleitoral. Sua candidatura foi um exemplo de que apelo popular e audiência não são suficientes para vencer no cenário político, embora ele tenha conseguido se colocar à disposição do jogo político para futuras disputas.
Em resumo, o resultado do primeiro turno em São Paulo revela a força da direita, impulsionada por um pragmatismo administrativo que se afasta do bolsonarismo, ao mesmo tempo em que a esquerda, com Boulos, se posiciona de maneira estratégica para disputar o futuro da cidade. A disputa do segundo turno entre Nunes e Boulos será uma batalha de narrativas e de estratégias, e o eleitorado paulistano estará diante de dois projetos distintos para o futuro da capital.
Delmiro Campos, advogado especializado em eleições majoritárias.
