Por Terezinha Nunes
Com a fama de conhecer a alma do povo, o ex-presidente Lula surpreendeu em 2010 ao lançar candidata a presidente a então ministra Dilma Rousseff por ele próprio batizada de “mãe do PAC” e eleita presidente quando quase ninguém acreditava que uma mulher pudesse chegar ao maior cargo público do país.
Além das dificuldades que as mulheres têm de entrar na política, a tradição brasileira em sido atroz: menos que 10% dos cargos eletivos são hoje ocupados por mulheres, embora elas representem 52% da população e os partidos estejam obrigados, por lei, a destinar 30% das vagas nas listas de candidatos proporcionais ao sexo feminino.
Mas, da mesma forma que afagou o ego das mulheres colocando uma delas na presidência, Lula desconsiderou Dilma e até a humilhou , há poucos dias, quando afirmou que pode vir a ser candidato a presidente em 2014 para evitar que o PSDB volte ao poder.
Embora tenha ressaltado que sua candidatura só vingará se Dilma não desejar disputar a reeleição, no momento em que admite ser candidato com tanto tempo de antecedência, Lula deixa a entender que repassou o Governo a Dilma para que ela ficasse apenas quatro anos e depois lhe devolvesse o mimo ou põe em cheque a capacidade da mulher Dilma para continuar gerindo o país.
De uma forma ou de outra atingiu as mulheres.
Mas Lula não ficou só aí. Quem sabe não esteja sabendo conviver com o poder feminino.
Enfrentou também outra mulher recentemente, a senadora Marta Suplicy, obrigando-a a abandonar os planos de voltar a ser prefeita de São Paulo e colocando em seu lugar o ex-ministro Fernando Haddad que nunca foi votado e não tem passado dos 2% a 3% nas pesquisas, quando Marta, dentro do PT, era a favorita e andava bem nas pesquisas.
Para completar, embora não tenha feito isso de público, Lula tratou com desdém outra importante mulher: a ministra Carmem Lúcia, do Supremo Tribunal Federal. Em conversa com o ministro Gilmar Mendes, confirmada por este à Veja, Lula disse que iria solicitar ao ex-ministro Sepúlveda Pertence, amigo de Carmem, que a convencesse a ajudar no adiamento do julgamento do mensalão.
Mesmo tendo deixado claro que iria agir assim com todos os ministros do STF – homens e mulheres – o ex-presidente teria revelado que Carmem Lúcia só teria chegado aonde chegou por interferência de Pertence. Sendo assim, deduz-se, estaria refém na mão de seu padrinho.
É evidente – porque público e notório – que Lula só tem recebido o troco de uma dessas mulheres, a senadora Marta Suplicy. Além de já ter demonstrado diversas vezes não estar disposta a carregar Haddad nas costas, Marta afrontou o ex-presidente ao não comparecer à festa de lançamento da candidatura de Haddad, desligar os telefones e informar à imprensa que esteve ausente por “motivos privados”.
Lula não deve ter ficado nada satisfeito com a rebeldia de Marta.
Ninguém garante que Dilma e Carmem Lúcia venham a agir diferente quando necessário. Os próprios cargos que ocupam as impedem de publicizar uma insatisfação mas, certamente, não devem ter gostado da forma como foram tratadas.
Há quem diga que o ex-presidente anda em uma fase ruim ou se encontre mesmo desequilibrado por dificuldade de convivência com a planície.
No caso de Dilma, Lula pode estar também com ciúmes porque ela tem colocado muitas mulheres no Governo e ele não fez o mesmo. Ou não confiava suficientemente na capacidade delas. A não ser, como parece está fazendo com Dilma, que elas só sirvam, na sua ótica, para esquentar a cadeira enquanto o homem está em pé.
CURTAS
Incapaz
O próprio PT colocou no senador Humberto Costa a pecha de “biônico”, palavra maldita nas bases petistas que apelidaram os governos da época do regime militar de “biônicos” mas o senador recebeu outra classificação do cientista político André Regis, que levantou dúvidas sobre sua capacidade como administrador. No twitter, André lembrou que o senador foi afastado do ministério da saúde por Lula em razão da clara “insuficiência de desempenho”.
Poder feminino
Atendendo sugestão feita na “Carta do Recife”, aprovada no Congresso Nacional do PSDB Mulher, o presidente nacional do partido, deputado federal Sérgio Guerra, determinou aos diretórios estaduais tucanos a ampliação do espaço destinado às mulheres nos órgãos de direção partidária, tanto municipais quanto estaduais. O mesmo será feito a nível nacional.
Fator Daniel
Embora os percentuais de votos dos pré-candidatos da oposição a prefeito do Recife fossem superiores – se somados – aos do prefeito João da Costa, vai ser difícil conseguir a união dos quatro em torno de um único nome ou mesmo de dois, como sugere o ex-deputado Raul Jungmann. Como nenhum deles, apesar da rejeição a João da Costa, tenha até agora despontado como favorito, não há como desprezar a capacidade de crescimento do pré-candidato do PSDB, Daniel Coelho. Embora esteja atrás de Mendonça e Raul Henry, ele nunca disputou cargo majoritário, podendo surpreender na campanha e ultrapassar os dois.
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